A última edição do Seminário de Políticas Públicas reuniu cerca de cem pessoas na Antiga sede da Unisinos, no centro de São Leopoldo, para rever as discussões realizadas durante o Fórum Social Mundial deste ano. Assim, uma síntese das principais palestras foi apresentada para que os participantes pudessem relembrar aquele momento e repensar a Agenda de Políticas Públicas que começou a ser pensada já no primeiro FSM.
Assim, as palestras de Sílvio Caccia Bava, do Instituto Pólis e Le Monde Diplomatique, da senadora Marina Silva e do professor Boaventura de Sousa Santos, da Universidade de Coimbra, entre outros foram relembrados.
Depois, uma discussão acerca do papel público da agenda de políticas públicas foi avaliado. Segundo a coordenadora do evento, profa. Marilene Maia, a agenda é um instrumento de formação de novas perspectivas em torno de políticas sociais. “A agenda é também um instrumento de articulação entre os agentes, ou seja, um instrumento metodológico para ressignificar a militância política”, complementou Marilene.
Conversamos, na ocasião, com algumas pessoas que participaram deste seminário. Segundo Fabiane de Assis, a importância de uma agenda de políticas públicas está na centralidade de uma participação popular. “A política pública determina ou não se teremos acesso a direitos sociais hoje no país. Só teremos acesso se houver participação popular. Por isso, discutir esse tema é fundamental para que a população seja autonôma e tenha percepção em relação ao que acontece no Brasil em termos de políticas públicas”, apontou.
De acordo com Edson Tomassim, padre, “a discussão da política pública no cenário atual é a construção das possibilidades de inserção de novos sujeitos na sociedade”.
Também esteve presente nosso amigo e parceiro Ir. Antônio Cechin. Para ele, esse evento é importante para se formar pessoas que vão organizar o povo.
Por fim, 3º Caderno Ideação também foi lançado neste seminário. Nele, há textos de Silvio Caccia Bava, Hélio Gonzalez, Boaventura de Sousa Santos e Marina Silva.
O caderno chama-se O papel público das políticas na garantia dos direitos sociais.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Matério J.U. Online - Cidadania na prática
Terceiro Caderno Ideação e DVD são lançados no Seminário de Políticas Sociais
Texto: Priscila Pasko
Imagens: Maurício Montano
O seminário iniciou com a apresentação do DVDColocar ideias em ação. Este objetivo, que exige engajamento e comprometimento, foi concretizado com sucesso por meio do lançamento do Terceiro Caderno IdeAção, que ocorreu na Antiga Sede da Unisinos nesta quinta-feira (1º /7), no Seminário de Políticas Sociais.
No auditório lotado, o público também pôde conferir o DVD que apresenta os debates e resultados do 4º Seminário de Políticas Sociais, realizado no dia 27 de janeiro de 2010, na Unisinos. Nele, estão painelistas que contribuíram com suas visões sobre o cenário nacional e mundial, além dos impactos positivos e negativos das políticas sociais.
O Caderno IdeAção expõe nas suas 103 páginas propostas de entidades regionais, nacionais e internacionais a respeito às garantias dos direitos humanos, inclusão, sustentabilidade e reafirmação do protagonismo cidadão. Ele servirá não apenas como ferramenta teórica, mas, sobretudo, como uma fonte de orientação para que os agentes públicos coloquem em prática a sua cidadania.
Profa. Dra. Marilene Maia e Rodrigo Castilhos (AMENCAR) participaram da elaboração da AgendaUma das coordenadoras do evento, a Profa. Dra. Marilene Maia, acredita que o Seminário apresenta uma ótima oportunidade de se discutir o Estado e a sociedade, transformando o cidadão em um agente ativo. “Precisamos fomentar um protagonismo radical. A sociedade, hoje, tem de aspirar às demandas destas populações e perceber que o bem comum não é só o capital, mas a criação de um padrão civilizatório mais complexo e completo.”
A Agenda Mundial das Políticas Públicas, que foi construída no 1º seminário, também foi debatida no seminário. Ela incorpora os desafios contemporâneos para a implementação. O adensamento da discussão desta Agenda seguiu o Seminário e está apresentada no caderno IdeAção.
O evento contou com a organização da Unisinos, IHU, Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (AMENCAR), Cáritas Brasileira, Centro Marista de Solidariedade.Fonte: http://www.juonline.com.br/index.php/instituto-humanitas/01.07.2010/cidadania-na-pratica/236f
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Lançamento do Caderno IdeAção 3 e Seminário de Políticas Sociais
É com muita alegria que anunciamos a proximidade do lançamento doCaderno Ideação 3. Gostaríamos de convocá-los especialmente para participar do Semináriode Políticas Sociais, que realizar-se-á no dia 1º de julho, amanhã, das14 às 18h.
O evento será realizado no auditório do Centro Jesuíta de Cidadania e Ação Social (sede antiga da Unisinos), no centro de SãoLeopoldo.
As inscrições poderão ser realizadas no site do IHU - http://www.ihu.unisinos.br/.
Salientamos a importância da participação de todos neste espaço, já que esta produção é de todos vocês. Para que todos possam acompanhar as informações referente ao lançamento do livro segue abaixo o link da matéria que saiu na Revista IHU on-line desta semana, como partilha. http://www.ihuonline.unisinos.br//index.php?option=com_eventos&Itemid=26&task=evento&id=322
O evento será realizado no auditório do Centro Jesuíta de Cidadania e Ação Social (sede antiga da Unisinos), no centro de SãoLeopoldo.
As inscrições poderão ser realizadas no site do IHU - http://www.ihu.unisinos.br/.
Salientamos a importância da participação de todos neste espaço, já que esta produção é de todos vocês. Para que todos possam acompanhar as informações referente ao lançamento do livro segue abaixo o link da matéria que saiu na Revista IHU on-line desta semana, como partilha. http://www.ihuonline.unisinos.br//index.php?option=com_eventos&Itemid=26&task=evento&id=322
IHU em Revista - Seminário de Políticas Sociais
Nesta quinta-feira, 01-07-2010, acontece o Seminário de Políticas Sociais, com o lançamento concomitante do 3º Caderno Ideação e do DVD. O Seminário dá sequência ao 4º Seminário de Políticas Sociais, que foi realizado em janeiro de 2010 na Unisinos, como uma atividade do Fórum Social Mundial 10 anos.
"Este novo seminário é um espaço de publicização dos produtos do 4º Seminário, em vista da disseminação dos seus conteúdos e sensibilização dos agentes das políticas sociais para a materialização da Agenda Mundial das Políticas Públicas. "
O evento inicia às 13h30min, e vai até as 18h, no auditório da Antiga Sede da Unisinos, no centro de São Leopoldo. A programação completa pode ser conferida em http://migre.me/SQAo.
De acordo com a coordenadora do Programa Trabalho do Instituto Humanitas Unisinios - IHU, Profa. Dra. Marilene Maia, o grande objetivo do Seminário é, além de lançar o Caderno Ideação, “discutir a agenda mundial das políticas para poder sensibilizar os agentes comprometidos com a garantia dos direitos e políticas sociais para uma ação mais articulada e fortalecida”. Segundo Marilene, é preciso “garantir políticas sociais se construam uma sociedade radicalmente includente”.
Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br//index.php?option=com_eventos&Itemid=26&task=evento&id=322
"Este novo seminário é um espaço de publicização dos produtos do 4º Seminário, em vista da disseminação dos seus conteúdos e sensibilização dos agentes das políticas sociais para a materialização da Agenda Mundial das Políticas Públicas. "
O evento inicia às 13h30min, e vai até as 18h, no auditório da Antiga Sede da Unisinos, no centro de São Leopoldo. A programação completa pode ser conferida em http://migre.me/SQAo.
De acordo com a coordenadora do Programa Trabalho do Instituto Humanitas Unisinios - IHU, Profa. Dra. Marilene Maia, o grande objetivo do Seminário é, além de lançar o Caderno Ideação, “discutir a agenda mundial das políticas para poder sensibilizar os agentes comprometidos com a garantia dos direitos e políticas sociais para uma ação mais articulada e fortalecida”. Segundo Marilene, é preciso “garantir políticas sociais se construam uma sociedade radicalmente includente”.
Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br//index.php?option=com_eventos&Itemid=26&task=evento&id=322
domingo, 13 de junho de 2010
Desfoque em foque - Publicada no IHU
Ricardo Paes de Barros, o maior pesquisador de política social do Brasil, está perplexo. Os últimos dez anos, incluindo todo o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e o final da era FHC, mudaram muito os aspectos da realidade que o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acompanha com lupa há cerca de 30 anos. Mudaram a política social e a realidade social - em ambos os casos, para melhor. Mas, perturbadoramente, as convicções e os conceitos que dão suporte há décadas ao trabalho de PB, como o economista é conhecido, também já não são exatamente os mesmos. A transformação da realidade brasileira colocou em xeque o modelo superorganizado e racional de política social que ele sempre defendeu.
A reportagem é de Fernando Dantas e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 13-06-2010.
Isso não significa que a política social dos últimos anos tenha caminhado numa direção contrária à visão de PB, que é colaborador na área social da candidata a presidente pelo PV, Marina Silva. Pelo contrário. Uma boa parte dos avanços obtidos - incluindo a joia da coroa, o Bolsa-Família - é tributária do gigantesco trabalho de pesquisa de política social por ele desenvolvido no Brasil e em diversos outros países latino-americanos.
No caso do Bolsa-Família, PB fez parte do grupo de pesquisadores do Ipea que varou noites reunido no Rio para pôr de pé o arcabouço técnico e logístico daquele que é talvez o maior programa de transferência de renda do mundo - e, como mostram os 43% de intenções de voto em Dilma Rousseff entre os eleitores beneficiados por programas sociais do governo federal, uma poderosa ferramenta política.
Mas o que perturba hoje o economista, como pensador de política social, é que as iniciativas do governo Lula nessa área são uma gigantesca salada de programas que seguem e rejeitam os princípios que ele sempre defendeu. O pior - ou melhor -, porém, é que essa receita confusa, surpreendentemente, está dando certo. "Talvez o sucesso disso tudo se deva ao fato de que não fomos seletivos", ele pondera.
Para quem conhece o economista, a frase soa quase bombástica. Engenheiro do Instituto de Tecnológico de Aeronáutica (ITA), matemático do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) no Rio e doutor em economia pela ortodoxa Universidade de Chicago, PB é conhecido como partidário da racionalidade, da eficiência e da focalização na política social - em uma palavra, da seletividade.
A alma de cientista, porém, impede que suas ideias se sobreponham aos fatos. E a melhora nos indicadores sociais é um sinal incontestável de que a receita atual tem seus méritos. Ele vê grandes progressos no Brasil em diversas áreas, como o combate à subnutrição e à mortalidade infantil, acesso à pré-escola e atenção básica à saúde, entre outras. Mas, indubitavelmente, a principal e a mais visível faceta do que PB chama de "progresso fantástico" é a redução da pobreza e da desigualdade nesta década, nas asas do diferencial no crescimento da renda de ricos e pobres.
Ele tem um resumo simples da história: na média do período de 2001 a 2008 (último dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Pnad), a renda per capita dos 10% mais ricos cresceu a um ritmo alemão, de 1,5% ao ano, e a dos 10% mais pobres a um ritmo quase chinês, de 8%. Nos outros extratos, o ritmo tendeu a ser tão maior ou tão menor quanto mais próximo se estivesse, respectivamente, dos 10% mais pobres ou dos 10% mais ricos.
O pesquisador é um defensor histórico da focalização, a ideia de se gastar recursos públicos escassos prioritariamente com os mais pobres. O exemplo mais acabado de focalização é o próprio Bolsa-Família, que atinge 12,5 milhões de famílias, ou cerca de 25% da população brasileira. Com gastos inferiores a 0,5% do PIB, o programa teve grande papel na redução da pobreza e da desigualdade nos últimos anos, exatamente porque os beneficiários são de fato, na sua grande maioria, pobres ou muito pobres. Outro programa focalizado que PB defende sem reservas é o Pró-Uni, no qual o governo paga por vagas no sistema universitário privado e as oferece para estudantes comprovadamente pobres.
O problema, ele continua, é que essas iniciativas convivem lado a lado com outros programas e gastos inteiramente não focalizados. Alguns exemplos são a forte expansão das universidades públicas, gratuitas tanto para ricos quanto para pobres, e as farmácias populares, nas quais os produtos são mais baratos para qualquer um que nelas adquira seus medicamentos. E há também a política de aumentos reais do salário mínimo, que carreia uma montanha de dinheiro muito maior do que o Bolsa-Família para benefícios de idosos e deficientes físicos que já estão acima da linha de pobreza.
PB gosta de comparar a salada de programas do Brasil com a política social extremamente bem-sucedida do Chile, que é tudo com o que ele sempre sonhou em termos de racionalidade, eficiência e focalização (e que será uma das referências para o programa de Marina). "Eles sempre caminham do A para o B, têm muito foco, fazem tudo passo a passo, olhando para a restrição orçamentária, e com muita clareza da sociedade sobre os objetivos", descreve. Mas o espantoso, admite, é que, mesmo com toda essa organização, "em vários indicadores o Chile está indo mais devagar que o Brasil".
O economista vem desenhando aos poucos uma explicação - e uma justificativa - para o estilo e o sucesso da política social brasileira, que descreve como "fazer o leque completo de todas as ideias em cima da mesa". Para PB, "a sociedade pode estar tão ansiosa que esteja dizendo o seguinte - vem cá, não temos tempo de saber se tem impacto, se não tem impacto, se está mais bem focalizado, se está mais mal focalizado, sai fazendo tudo aí, ô cara".
Nesse caso, ele prossegue, "se você tem uma dívida social gigante, e tem dinheiro para testar várias ideias, talvez não tenha mesmo por que esperar, por que fazer um protótipo para escolher isso ou aquilo - pode valer a pena deslanchar diversas coisas".
O pesquisador, que sempre defendeu a busca do máximo foco e da máxima eficiência para cada centavo gasto de dinheiro público, admite agora que "se tentarmos fazer na política social só aquilo que temos certeza que funciona, que está bem focalizado, pode ser que não consigamos gastar toda a quantidade de dinheiro que temos".
Porém, mesmo reconhecendo o sucesso da política social brasileira de atirar em todas as direções, a sua racionalidade o leva a apontar também os riscos dessa estratégia, e, principalmente, os desafios futuros que ela implica. O primeiro problema de implantar tudo que parece bom à primeira vista é criar grupos de interesse entre os beneficiários: "Depois, é extremamente difícil voltar atrás".
Ele nota que parece haver muita folga no orçamento social hoje, mas a situação pode mudar no futuro. Quando a conta apertar, e houver novas boas ideias para se aplicar, os recursos podem já estar comprometidos com programas que acabam se revelando pouco eficazes. Assim, numa segunda etapa, é possível que um ordenamento seja necessário, como se "a política social de hoje fosse um rascunho bem-sucedido que terá de ser passado a limpo adiante".
É nesse ponto que entra em jogo o segundo grande mantra da vida profissional de PB, que faz par com a focalização: a avaliação dos programas sociais. Ele exemplifica com o Pró-Uni e a expansão das universidades públicas: "Se você não sabe a melhor forma de resolver a questão do acesso à educação superior, pode testar as duas coisas, mas tem de definir se o Pró-Uni é a solução ou apenas um remendo provisório enquanto não se expande a universidade pública para cobrir todo o universo de jovens no Brasil".
O economista diz que o Brasil evoluiu muito em termos das ferramentas para avaliar a política social, mas "está mais preocupado com avaliações que permitam melhorar o desenho dos programas, e que partem do princípio de que eles devem ser continuados". Para ele, será preciso também fazer "duras avaliações de impacto, que dirão se o caminho A é melhor que o B; e, se for, B será descontinuado para que se possa concentrar a atenção e os recursos em A". Nesse terreno "politicamente difícil", PB acha que o Brasil está fazendo pouco.
Mas ele vê ainda, para além da questão da efetividade, outra discussão que o País se recusa a fazer: para que serve a política social? Assim, no turbilhão recente de iniciativas, faltou definir princípios e propósitos que dão o norte para inevitáveis escolhas no futuro.
PB exemplifica com um trabalho do qual participou recentemente, que consistiu em definir os possíveis objetivos de longo prazo do Bolsa-Família. A primeira alternativa seria a de um programa voltado a reduzir e liquidar a extrema pobreza definida por uma linha de renda em valores absolutos. Nesse caso, o Bolsa-Família iria diminuir e acabar dentro de um prazo relativamente curto, dado o rápido avanço dos rendimentos dos brasileiros mais pobres.
A segunda opção é a de que o Bolsa-Família fosse o embrião de um programa de "bolsa-cidadania", ou "renda mínima", cujo propósito fosse o de chegar gradativamente a todos os brasileiros.
A terceira definição, da preferência de PB, é a do Bolsa-Família como um programa para acabar com o que ele chama de "pobreza relativa", definida não por um valor de renda absoluto, mas pela distância em relação à renda média do brasileiro. Nesse caso, o Bolsa-Família existiria enquanto persistissem os níveis extremos de desigualdade no Brasil, cuja queda - que está ocorrendo - será um processo bem mais prolongado do que a eliminação da extrema pobreza definida pela renda em valores absolutos. "Curiosamente, essa discussão não é feita, e a sociedade fica sem saber para onde vai o Bolsa-Família", ele comenta.
PB nota que há inúmeros outros debates que não estão sendo feitos. Para o economista, apesar de todos os progressos, a política social brasileira avançou pouco em termos conceituais. A tarefa à frente são definições fundamentais sobre o tamanho e o papel do Estado, sobre focalização e universalização, sobre "desmercantilizar" ou não a educação, sobre o papel do setor privado e do terceiro setor, sobre parcerias, etc: "É toda uma discussão que não está acontecendo, cuja falta atrapalha na hora de decidir o que vamos fazer com os diversos programas sociais", ele conclui.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33377
A reportagem é de Fernando Dantas e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 13-06-2010.
Isso não significa que a política social dos últimos anos tenha caminhado numa direção contrária à visão de PB, que é colaborador na área social da candidata a presidente pelo PV, Marina Silva. Pelo contrário. Uma boa parte dos avanços obtidos - incluindo a joia da coroa, o Bolsa-Família - é tributária do gigantesco trabalho de pesquisa de política social por ele desenvolvido no Brasil e em diversos outros países latino-americanos.
No caso do Bolsa-Família, PB fez parte do grupo de pesquisadores do Ipea que varou noites reunido no Rio para pôr de pé o arcabouço técnico e logístico daquele que é talvez o maior programa de transferência de renda do mundo - e, como mostram os 43% de intenções de voto em Dilma Rousseff entre os eleitores beneficiados por programas sociais do governo federal, uma poderosa ferramenta política.
Mas o que perturba hoje o economista, como pensador de política social, é que as iniciativas do governo Lula nessa área são uma gigantesca salada de programas que seguem e rejeitam os princípios que ele sempre defendeu. O pior - ou melhor -, porém, é que essa receita confusa, surpreendentemente, está dando certo. "Talvez o sucesso disso tudo se deva ao fato de que não fomos seletivos", ele pondera.
Para quem conhece o economista, a frase soa quase bombástica. Engenheiro do Instituto de Tecnológico de Aeronáutica (ITA), matemático do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) no Rio e doutor em economia pela ortodoxa Universidade de Chicago, PB é conhecido como partidário da racionalidade, da eficiência e da focalização na política social - em uma palavra, da seletividade.
A alma de cientista, porém, impede que suas ideias se sobreponham aos fatos. E a melhora nos indicadores sociais é um sinal incontestável de que a receita atual tem seus méritos. Ele vê grandes progressos no Brasil em diversas áreas, como o combate à subnutrição e à mortalidade infantil, acesso à pré-escola e atenção básica à saúde, entre outras. Mas, indubitavelmente, a principal e a mais visível faceta do que PB chama de "progresso fantástico" é a redução da pobreza e da desigualdade nesta década, nas asas do diferencial no crescimento da renda de ricos e pobres.
Ele tem um resumo simples da história: na média do período de 2001 a 2008 (último dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Pnad), a renda per capita dos 10% mais ricos cresceu a um ritmo alemão, de 1,5% ao ano, e a dos 10% mais pobres a um ritmo quase chinês, de 8%. Nos outros extratos, o ritmo tendeu a ser tão maior ou tão menor quanto mais próximo se estivesse, respectivamente, dos 10% mais pobres ou dos 10% mais ricos.
O pesquisador é um defensor histórico da focalização, a ideia de se gastar recursos públicos escassos prioritariamente com os mais pobres. O exemplo mais acabado de focalização é o próprio Bolsa-Família, que atinge 12,5 milhões de famílias, ou cerca de 25% da população brasileira. Com gastos inferiores a 0,5% do PIB, o programa teve grande papel na redução da pobreza e da desigualdade nos últimos anos, exatamente porque os beneficiários são de fato, na sua grande maioria, pobres ou muito pobres. Outro programa focalizado que PB defende sem reservas é o Pró-Uni, no qual o governo paga por vagas no sistema universitário privado e as oferece para estudantes comprovadamente pobres.
O problema, ele continua, é que essas iniciativas convivem lado a lado com outros programas e gastos inteiramente não focalizados. Alguns exemplos são a forte expansão das universidades públicas, gratuitas tanto para ricos quanto para pobres, e as farmácias populares, nas quais os produtos são mais baratos para qualquer um que nelas adquira seus medicamentos. E há também a política de aumentos reais do salário mínimo, que carreia uma montanha de dinheiro muito maior do que o Bolsa-Família para benefícios de idosos e deficientes físicos que já estão acima da linha de pobreza.
PB gosta de comparar a salada de programas do Brasil com a política social extremamente bem-sucedida do Chile, que é tudo com o que ele sempre sonhou em termos de racionalidade, eficiência e focalização (e que será uma das referências para o programa de Marina). "Eles sempre caminham do A para o B, têm muito foco, fazem tudo passo a passo, olhando para a restrição orçamentária, e com muita clareza da sociedade sobre os objetivos", descreve. Mas o espantoso, admite, é que, mesmo com toda essa organização, "em vários indicadores o Chile está indo mais devagar que o Brasil".
O economista vem desenhando aos poucos uma explicação - e uma justificativa - para o estilo e o sucesso da política social brasileira, que descreve como "fazer o leque completo de todas as ideias em cima da mesa". Para PB, "a sociedade pode estar tão ansiosa que esteja dizendo o seguinte - vem cá, não temos tempo de saber se tem impacto, se não tem impacto, se está mais bem focalizado, se está mais mal focalizado, sai fazendo tudo aí, ô cara".
Nesse caso, ele prossegue, "se você tem uma dívida social gigante, e tem dinheiro para testar várias ideias, talvez não tenha mesmo por que esperar, por que fazer um protótipo para escolher isso ou aquilo - pode valer a pena deslanchar diversas coisas".
O pesquisador, que sempre defendeu a busca do máximo foco e da máxima eficiência para cada centavo gasto de dinheiro público, admite agora que "se tentarmos fazer na política social só aquilo que temos certeza que funciona, que está bem focalizado, pode ser que não consigamos gastar toda a quantidade de dinheiro que temos".
Porém, mesmo reconhecendo o sucesso da política social brasileira de atirar em todas as direções, a sua racionalidade o leva a apontar também os riscos dessa estratégia, e, principalmente, os desafios futuros que ela implica. O primeiro problema de implantar tudo que parece bom à primeira vista é criar grupos de interesse entre os beneficiários: "Depois, é extremamente difícil voltar atrás".
Ele nota que parece haver muita folga no orçamento social hoje, mas a situação pode mudar no futuro. Quando a conta apertar, e houver novas boas ideias para se aplicar, os recursos podem já estar comprometidos com programas que acabam se revelando pouco eficazes. Assim, numa segunda etapa, é possível que um ordenamento seja necessário, como se "a política social de hoje fosse um rascunho bem-sucedido que terá de ser passado a limpo adiante".
É nesse ponto que entra em jogo o segundo grande mantra da vida profissional de PB, que faz par com a focalização: a avaliação dos programas sociais. Ele exemplifica com o Pró-Uni e a expansão das universidades públicas: "Se você não sabe a melhor forma de resolver a questão do acesso à educação superior, pode testar as duas coisas, mas tem de definir se o Pró-Uni é a solução ou apenas um remendo provisório enquanto não se expande a universidade pública para cobrir todo o universo de jovens no Brasil".
O economista diz que o Brasil evoluiu muito em termos das ferramentas para avaliar a política social, mas "está mais preocupado com avaliações que permitam melhorar o desenho dos programas, e que partem do princípio de que eles devem ser continuados". Para ele, será preciso também fazer "duras avaliações de impacto, que dirão se o caminho A é melhor que o B; e, se for, B será descontinuado para que se possa concentrar a atenção e os recursos em A". Nesse terreno "politicamente difícil", PB acha que o Brasil está fazendo pouco.
Mas ele vê ainda, para além da questão da efetividade, outra discussão que o País se recusa a fazer: para que serve a política social? Assim, no turbilhão recente de iniciativas, faltou definir princípios e propósitos que dão o norte para inevitáveis escolhas no futuro.
PB exemplifica com um trabalho do qual participou recentemente, que consistiu em definir os possíveis objetivos de longo prazo do Bolsa-Família. A primeira alternativa seria a de um programa voltado a reduzir e liquidar a extrema pobreza definida por uma linha de renda em valores absolutos. Nesse caso, o Bolsa-Família iria diminuir e acabar dentro de um prazo relativamente curto, dado o rápido avanço dos rendimentos dos brasileiros mais pobres.
A segunda opção é a de que o Bolsa-Família fosse o embrião de um programa de "bolsa-cidadania", ou "renda mínima", cujo propósito fosse o de chegar gradativamente a todos os brasileiros.
A terceira definição, da preferência de PB, é a do Bolsa-Família como um programa para acabar com o que ele chama de "pobreza relativa", definida não por um valor de renda absoluto, mas pela distância em relação à renda média do brasileiro. Nesse caso, o Bolsa-Família existiria enquanto persistissem os níveis extremos de desigualdade no Brasil, cuja queda - que está ocorrendo - será um processo bem mais prolongado do que a eliminação da extrema pobreza definida pela renda em valores absolutos. "Curiosamente, essa discussão não é feita, e a sociedade fica sem saber para onde vai o Bolsa-Família", ele comenta.
PB nota que há inúmeros outros debates que não estão sendo feitos. Para o economista, apesar de todos os progressos, a política social brasileira avançou pouco em termos conceituais. A tarefa à frente são definições fundamentais sobre o tamanho e o papel do Estado, sobre focalização e universalização, sobre "desmercantilizar" ou não a educação, sobre o papel do setor privado e do terceiro setor, sobre parcerias, etc: "É toda uma discussão que não está acontecendo, cuja falta atrapalha na hora de decidir o que vamos fazer com os diversos programas sociais", ele conclui.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33377
sexta-feira, 11 de junho de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Elementos de uma nova agenda: Os bens comuns
Forum Social Mundial: 10 anos depois - Elementos de uma nova agenda: Os bens comuns
As múltiplas crises nos setores de alimentação & desenvolvimento, clima & meio ambiente e finanças retratam uma crise de idéias. Por isso, novas idéias, coerentes e poderosas são urgentemente necessárias. O Fórum Social Mundial mostrou durante cerca de uma década, que essas idéias (e alternativas) são abundantes! Uma delas conseguiu infiltrar-se na agenda do FSM durante o 9 º Fórum Social Mundial 2009, em Belém. Depois de um debate frutífero e aberto em Belém, o manifesto “Reinvidicando os bens comuns” foi lançado. Ele foi pensado como uma espécie de “Chamada Global para uma campanha de mobilização internacional para recuperar, proteger e recriar os bens comuns”. Assim, o FSM abriu “um espaço participativo, que nos permite compartilhar e discutir idéias e iniciativas em relação ao futuro do espaço comum.” O Manifesto está disponível em 8 línguas para receber assinaturas e ser debatido.
Nas páginas seguintes pretendo explicar:
- Primeiramente, porque eu acredito que, com base em fonte literalmente inesgotável de experiências práticas em todo o mundo, os bens comuns estimulam múltiplas respostas para múltiplas crises.- em segundo lugar, porque eu acredito que os bens comuns como paradigma e visão de mundo podem se converter em um conceito de base para uma plataforma estratégica para os movimentos sociais, e para além e- e finalmente, porque o momento certo para os bens comuns chegou.Isso fará com que você compreenda facilmente porque eu estou dentre os que apoiaram o Manifesto desde seu início.
Os bens comuns como um paradigma comum para os movimentos sociais e além
Nós só podemos promover o bem comum como nova narrativa para o século 21 se eles forem identificados como um denominador comum por diferentes movimentos sociais e escolas de pensamento. No meu ponto de vista, a imposição dos bens comuns seria não só possível, mas estrategicamente inteligente. Aqui estão 15 razões por que acredito nisto:
1. Os bens comuns estão em toda parte. Eles determinam nossa qualidade de vida de muitas e importantes maneiras. Estão presentes (embora muitas vezes invisíveis) nas esferas social, natural, cultural e digital. Pense sobre as coisas que usamos para aprender (ler e escrever), as coisas que usamos para nos mover (terra, ar e mar), as coisas que usamos para nos comunicar (idioma, música e código), as coisas que usamos para alimentar e curar (terra, água, remédios), ou as coisas das quais depende nossa reprodução (genes, vida social). Os bens comuns têm a ver com compartilhar e usar todas essas coisas. Eles são uma vívida forma de reprodução das nossas relações sociais - a qualquer momento. Portanto, eles são melhor descritos com um verbo (COMMONING, ou “comunar” em português) ao invés de um substantivo (bens comuns). Os bens comuns são um tipo especial de prática de utilização e produção de conhecimentos e bens materiais, onde o valor de uso é privilegiado sobre o valor de troca.
“Comunar” é uma prática que nos permite tomar nossas vidas em nossas próprias mãos, proteger e ampliar o que é comum a nós ao invés de testemunhar sua clausura e privatização. Os direitos daqueles que “comunam” são independentes da convenção formal e do direito positivo. Nós simplesmente os possuímos sem ter que pedir permissão para ninguém e os compartilhamos com outros. Os bens comuns oferecem um tipo diferenciado de liberdade daquela que provém do mercado. Assim, a boa notícia é que: quando nos concentramos nos bens comuns, nos concentramos em como mudar as coisas a partir da esfera do mercado para a esfera do bem comum, nos concentramos em como mudar a autoridade e a responsabilidade de burocracias estatais para as muitas possibilidades de “governo dos comuns” por seus usuários e nos concentramos em muitas questões e recursos - como os 75% por cento da biomassa do mundo - que ainda não estão mercantilizados. Isto é encorajador.
2. Os bens comuns ligam setores e comunidades, oferecem uma estrutura para a convergência e consolidação dos movimentos. As questões com que temos que lidar se tornaram demasiadamente complexas. A fim de reduzir a complexidade, fragmentamos o que deve permanecer junto. No debate político público há uma divisão em diferentes domínios do conhecimento e autoridade. Há aqueles que discutem questões relacionadas aos recursos naturais (os “ecos”) e aqueles que discutem as questões culturais & digitais (os “technos”). O resultado são comunidades (excessivamente) especializadas para cada uma das centenas de problemas com que nos confrontamos e muitos elos perdidos. Para a própria diversidade do espaço comum, essa fragmentação vai continuar, em certa medida, mas também contribui para uma perda da nossa capacidade comum de acompanhar o andamento dos processos econômicos, políticos e tecnológicos e as mudanças. Isso diminui a nossa capacidade de reagir às mudanças e cuidadosamente encaminhar propostas que sejam alternativas e coerentes. Os bens comuns podem unificar diferentes movimentos de mudança social, mesmo aqueles que têm uma dinâmica profundamente diferente, porque eles permitem-nos concentrar no que todos os recursos comuns e as pessoas têm em comum e não no que os separa. A água é finita, o conhecimento não é. Atmosfera é global, um parque não é. As idéias crescem quando as dividimos, a terra não. Mas todos são recursos comuns. Portanto nenhum deles pode ser propriedade exclusiva de uma única pessoa. Todos estão ligados a uma comunidade. Todos são mais bem governados se as regras e normas são auto-determinadas ou consideradas altamente legítimas pelo povo que tem que contar com esses recursos.
3. Os bens comuns reformulam o debate sobre propriedade para além da (às vezes inútil) definição de público versus privado. O reinvidicação pela propriedade pública continua a ser importante, mas os Estados serviram realmente como depositários conscienciosos dos bens comuns? Não. Eles realmente protegem os conhecimentos tradicionais, florestas, água e biodiversidade? Não em todo lugar. Há muito mais do que o “público” e o “privado”. Um recurso comum pode ser possuído por um curto espaço de tempo (para reproduzir os nossos meios de subsistência), mas não podemos fazer com ele o que queremos. -+ A propriedade permite. E a propriedade permite o abuso e a mercantilização, a rentabilização máxima e a “externalização” dos custos sobre os bens comuns - um processo em curso no final do qual todos nós estaremos em pior situação. Mesmo os mais ricos entre nós, estimulados a fugir para condomínios fechados.
4. A perspectiva dos bens comuns não é uma forma digital de pensar. O seu modo não é binário, 0 - 1, um ou outro. Também não foca nos pontos principais, como um único número de “sucesso”. Nossa busca é por soluções para além de pólos opostos e métricas numéricas de “sucesso”. Não é simplesmente privado versus público, nem a direita versus a esquerda, a cooperação versus a competição, “mão invisível” do mercado contra o planejamento do Estado, dos que são a favor da tecnologia versus os antitecnologia. De uma perspectiva dos bens comuns o foco está no terceiro elemento esquecido. Ele aprofunda a nossa compreensão sobre a propriedade comum e os princípios universais que trabalham para as pessoas e protegem os seus recursos comuns. No setor de bens comuns, priorizamos aprender mais sobre a cooperação do que sobre a competição. Os bens comuns reforçam regras auto-determinadas e tecnologias abertas comumente desenvolvidas e controladas, ao invés de tecnologias proprietárias, que tendem a concentrar o poder dentro de elites e permitem que elas nos controlem.
5. Falar sobre os bens comuns significa focar na diversidade. Nas palavras do ex-governador Olívio Dutra (Rio Grande do Sul) durante o “Fórum Social Mundial 10 anos depois”: “Eles permitem a unidade dentro da pluralidade e da diversidade”. A definição, mas não a posição defensiva é: “um mundo no qual cabem muitos mundos”. Sem dúvida, um dos pontos fortes desta abordagem reside na idéia de que não há soluções simplistas, padrões institucionais ou nenhuma panacéia “tamanho único”, apenas princípios universais, tais como reciprocidade, cooperação, transparência, respeito à diversidade e outros. Cada comunidade tem que determinar as regras adequadas sobre como acessar, usar e controlar um sistema de recursos comuns baseado nesses princípios. Isto é algo complexo - assim como é a relação entre natureza e sociedade - especialmente quando falamos sobre bens comuns globais. Lá, a “comunidade” é a humanidade inteira, o que se refere à própria necessidade de um novo multilateralismo baseado em uma abordagem livre.
6. Para nos centrarmos na questão dos bens comuns devemos equilibrar três grandes Cs: Cooperação, Comando e Concorrência. Não há cooperação sem competição e vice-versa, mas em uma sociedade baseada nos bens comuns o reconhecimento é adquirido por aqueles que melhor desempenham a cooperação e não a competição. O slogan é: Extrapole a cooperação e não a competição. As regras específicas para a cooperação em um sistema de bens comuns variam de configuração para configuração. Ninguém pode comandá-las de cima. Da pesquisa e prática ligadas aos bens comuns aprendemos que por todo o mundo muitos sistemas de governança de bens comuns são autoreguláveis, o que significa que eles estão criando seus próprios sistemas de monitoramento. Ou eles são autoreguláveis e se coordenam em diferentes níveis institucionais. Quanto ao “comando”, o prêmio Nobel Elinor Ostrom aconselha: “É melhor induzir a cooperação com mecanismos institucionais equipados para os ecossistemas locais do que tentar comando à distância.” Ao mesmo tempo, “os sistemas vindos de cima” - governos, leis, organismos internacionais - podem ser extremamente importantes para o empoderamento e facilitação dos bens comuns. Mas para fazer isso, eles precisam de uma perspectiva de bens comuns inscrita nas suas lógicas e políticas arquitetônicas.
7. Os bens comuns não separam a dimensão ecológica da social como um foco tipo “Green New Deal” faz. Até certo ponto, pode ser útil tornar visível o “valor econômico” dos recursos naturais e certamente é necessário internalizar os custos ecológicos de produção em todo o processo produtivo. Mas isso não é suficiente. Tal enfoque não aborda a dimensão social do problema e tende a aprofundar as estruturas tendenciosas de mercado, ligando as soluções ao acesso ao dinheiro. Então, aquele que tem pode pagar a internalização do custo. Aquele que não tem está em maus lençóis. Ao invés disso, as dimensões ecológica e social encontram uma explicação comum nos bens comuns. Não existe solução baseada em uma perspectiva de bens comuns onde aqueles que não têm, estão em situação pior.
8. O conceito de bens comuns integra diferentes visões de mundo: existem atrativos para o pensamento socialista (por exemplo, a posse comum), para os anarquistas (a abordagem auto-organizacional), para o pensamento conservador (valorizando a proteção da criação), obviamente, para as idéias comunitárias e cosmopolitas (abordagem da diversidade integral) e até mesmo para os liberais (distância da responsabilidade do Estado e o respeito pelos interesses e motivações individuais em aderir a uma comunidade ou um projeto). Mas é claro que os bens comuns não podem ser um programa de partido político único. Essa é a sua força e é por isso que atores políticos da corrente principal muitas vezes não compreendem os bens comuns e até mesmo tentam cooptá-los. Se realmente desejamos um discurso coerente sobre os bens comuns (ver 9), eles não serão bem sucedidos.
9. O valor de referência para a integração de diferentes idéias políticas dentro de um paradigma de bens comuns é clara e tem três objetivos: (a) uso sustentável e respeitoso dos recursos (social, natural e cultural incluindo o digital), o que significa: sem o uso excessivo ou subutilização de recursos comuns (b) a partilha equitativa dos recursos comuns, bem como participação em todos os processos decisórios sobre o acesso, uso e controle desses recursos e (c) o livre desenvolvimento da criatividade e da individualidade das pessoas, sem sacrificar o interesse coletivo.
10. Os bens comuns não têm um, mas muitos centros. Suas estruturas de governança são descentralizadas e variadas também. Em outras palavras: é característico para os bens comuns ser policêntrico, o que defende uma abordagem profundamente democratizante, tanto politicamente (princípios da descentralização, subsidiariedade e soberania do povo e da tomada de decisão) e economicamente (o “modo de produção dos comuns” nos faz menos dependentes do dinheiro e do mercado).
11. Os bens comuns reforçam a crença essencial sobre seres humanos e comportamento. Não somos apenas, nem principalmente o “homo oeconomicus” que nos fizeram crer ser. Somos muito mais do que criaturas egoístas atrás dos nossos próprios interesses. Precisamos e gostamos de estar envolvidos em uma rede social. “Os bens comuns são a teia da vida”, afirma Vandana Shiva. Gostamos de contribuir, cuidar e compartilhar. Os bens comuns reforçam a confiança no potencial criativo das pessoas e na idéia de interrelacionalidade, o que significa: “Eu preciso dos outros e os outros precisam de mim.” Eles honram a nossa liberdade de contribuir e partilhar. Este é um tipo de liberdade diferente da liberdade em que o mercado está baseado. Quanto mais contribuirmos, maior será o nosso acesso às coisas. Mas note: não é simplesmente “acesso a tudo de graça”.
12. Os bens comuns oferecem ferramentas de análise que surgem a partir de categorias diferentes daquelas do capitalismo e, portanto, o conceito contribui para “descolonizar nosso pensamento”. (Grzybowski) Aqueles que “comunam” redefinem a “eficiência”. Eles perguntam como cooperar “eficientemente” e como incentivar e capacitar as pessoas para também fazê-lo? Eles reivindicam direitos de uso (de curto prazo) para reproduzir seus meios de subsistência, em vez da propriedade ilimitada. Eles honram as formas tradicionais de proteger os bens comuns, bem como os sistemas de conhecimento tradicionais. Em suma: os bens comuns jogam nova luz sobre muitos dos antigos processos regulatórios políticos e jurídicos. Faz uma grande diferença o fato de eu ver o ambiente como um bem comum ou como uma mercadoria para ser comercializada. Faz diferença se a água é entendida como um bem comum, o que significa intimamente ligada às necessidades das comunidades, ou não. Ou considere as sementes; conceber a diversidade das sementes como algo livre significa: autodeterminação da colheita e segurança alimentar. Se a sociedade reconhecesse a diversidade regional de sementes como um bem comum, o Estado colocaria todos os recursos disponíveis para produção independente e orgânica de sementes e para proteger os pequenos agricultores para que estes continuem sua forma tradicional de desenvolvimento de sementes ao invés de desperdiçar o dinheiro dos contribuintes com manipulação genética e engenharia de sementes.
13. No setor de bens comuns, há uma grande diversidade e quantidade de atores. Ao longo dos últimos anos, o interesse internacional no paradigma dos bens comuns se acelerou. Várias organizações e cidadãos têm agora significativos círculos transnacionais (Creative Commons, Wikipedia, Software Livre e Movimento da Cultura Livre, plataformas de partilha, organizações antimineração, alianças que trabalham para uma abordagem de Bem Viver, movimentos em todo o mundo para uma agricultura sustentável, Água como Bem Comum - Water Commons, hortas comunitárias, projetos para a comunicação e informação do cidadão e muitos outros). Na verdade, é um crescimento espontâneo e explosivo de diversas iniciativas comuns. Desde que Elinor Ostrom ganhou o Prêmio Nobel de Economia (Outubro 2009), muitas universidades têm redescoberto o interesse acadêmico pelos bens comuns.
14. Os bens comuns são um modo alternativo de produção. Os problemas com que nos confrontamos não são problemas de disponibilidade de recursos. São problemas que surgem a partir do modo de produção atual. Felizmente, em algumas áreas, estamos testemunhando uma mudança do modo de produção capitalista (baseada na propriedade, comando, troca de valor através de dinheiro, exploração de recursos e do trabalho, dependentes do crescimento e com o lucro como único objetivo) em um modo livre de produção (baseado na posse, contribuição, partilha, auto-interesse e iniciativa, onde o PIB é um indicador insignificante e o objetivo é uma vida boa 15. O discurso sobre os bens comuns é um discurso sobre mudança cultural. Não se trata de uma abordagem meramente tecnológica ou institucional. Em vez disso, ela oferece uma nova estrutura o pensar e agir político e pessoal.
Por que agora? Porque o momento é propício para os bens comuns.
1. Dado o momento histórico de mudança, os bens comuns estão atualmente sendo redescobertos em muitos contextos. O Mercado e o Estado (sozinhos) falharam tanto na proteção dos recursos comuns na satisfação das necessidades dos povos. Na verdade, o fundamentalismo do mercado livre que prevalece neste momento está ameaçado. Seu sistema de análise econômica, políticas públicas e visão de mundo estão perdendo o seu valor explicativo, para não mencionar o apoio do público. Mais e mais pessoas percebem que não é por causa do mercado que nós apreciamos a biodiversidade, a diversidade cultural e as redes sociais!
2. As novas tecnologias permitem novas formas de cooperação e a produção descentralizada do que, até agora, têm sido tecnologias essenciais monopolizadas da era industrial. Hoje, podemos deslocar até a energia ou a produção de eletricidade para os bens comuns sociais (estações de energia solar cidadã, estações de energia caseiras). Podemos decidir quais são as notícias e informações úteis para a comunidade e reproduzi-las com “a maior máquina de copiar” que já existiu: a internet. A grande revolução em curso na produção permite uma mudança de regras. Esta é uma grande ameaça para os monopólios.
3. Os processos em curso colocam o indivíduo em posição de participar de um contexto mais amplo. A perspectiva moderna dos bens comuns não é dirigida para o passado. A perspectiva não é de mera relocalização. O horizonte aponta para a cooperação local, descentralizada e horizontal em redes distribuídas de modo que as pessoas possam se capacitar para criar coisas juntas, disponíveis para elas e outras - se quiserem. O objetivo é ampliar o setor de bens comuns e da produção baseada em bens comuns tanto quanto possível e depender cada vez menos do mercado. Isso só será possível se o novo modo de produção for capaz de resolver até mesmo problemas complexos, se for capaz de produzir artefatos coletivamente que mesmo grandes empresas teriam dificuldades para preparar logisticamente, financeiramente e conceitualmente. E pronto! Basta pensar sobre a Wikipedia ou um carro que aceita qualquer tipo de energia. Talvez tivéssemos sido capazes de desenvolver VIPs (veículos de transporte individual), com base em 100% de materiais recicláveis, que consomem apenas um litro/100km se as empresas não tivessem restringido as tecnologias e controlado o mercado. Em um mundo onde o modo de produção baseado em bens comuns é geral, não há mais centro e periferia.
4. Há novas formas jurídicas para proteger os direitos de uso coletivo e livre e/ou acesso equitativo aos bens comuns: a Licença Pública Geral (GPL), as licenças Share Alike, modelos de apropriação dos recursos naturais, com um mecanismo embutido para proteger contra a especulação e evitar a superexploração, fundos de ações de um único recurso comum, os sistemas acequia e Johads de gestão da água no México e Índia ou o Allemansrätten (direitos de cada pessoa) em países da Europa Setentrional. Estas são ferramentas poderosas sobre as quais temos muito que aprender e desenvolver. É uma área onde precisamos de uma boa dose de pensamento jurídico criativo e inovação e precisamos de respeito pela grande variedade de regras formais e informais para proteger os bens comuns em todo o mundo.
5. E por último, mas não menos importante: uma vez que você inicia sua caminhada no mundo dos bens comuns, você descobre coisas novas e impressionantes. Você se conecta com centenas de comunidades dinâmicas. Você tem insights inesperados, descobre projetos estimulantes e idéias e multiplica suas redes. É energizante. Você sabia que existe um projeto chamado Open Cola? Ou que o maior lago da Nova Zelândia, o Lago Taupo, está cheio de trutas? Na região de Taupo muito turística, há uma pressão muito grande sobre os recursos, mas a população continua a desfrutar da truta do lago, porque os neozelandeses seguem uma regra simples: Pesque o que você precisa para comer (para fazer isso, você obtém uma licença de pesca das autoridades locais), mas não venda. Assim, você não vai encontrar nenhuma truta nos menus das centenas de restaurantes na região. Lembre-se: Os bens comuns não estão à venda. Ou será que você sabe algo sobre a biologia de código aberto e medicina participativa? Você já ouviu falar sobre os inúmeros bancos de sementes locais - especialmente no sul - e os incríveis tesouros que eles desenvolvem para nós? Você sabe em que ponto se encontra a luta do crescente movimento internacional de acesso aberto da publicação acadêmica em seu esforço para ter certeza de que teremos livre acesso ao que foi publicamente financiado para a produção do conhecimento? Você sabe algo sobre o intercultural e os movimentos para as hortas comunitárias ou sobre os regimes utilizados pelos pescadores de lagosta do Maine/E.U.A. para evitar o excesso de pesca da lagosta? E a participação dos bens comuns nas crises, quando centenas de voluntários contribuem com seu conhecimento e coletam informações utilizando modernas tecnologias da informação para o apoio à ajuda humanitária no Haiti pós-terremoto, por exemplo?
Os bens comuns trazem o entusiasmo de volta para os debates políticos. Os jovens são todo ouvidos quando eles aprendem sobre produção coletiva de um para um, porque é isso que eles fazem. Os “ecos” são todo ouvidos quando eles descobrem o princípio de copyleft, que permite a reprodução viral de software e de conteúdo. Eles aprendem que “este treco complicado de licença” significa a defesa da nossa liberdade de acesso aos conhecimentos e técnicas culturais. É precisamente o que eles dizem no seu campo. Os “technos” se motivam a utilizar suas incríveis habilidades para ajudar a gerir sistemas complexos de recursos naturais. Em outras palavras: os bens comuns ampliam o horizonte e sopram uma brisa fresca no pensamento e prática coletivos não-dogmáticos e dinâmicos.
Os bens comuns são um conceito poderoso, autocapacitante e empoderante para a constante recriação de uma vida digna. É o que precisamos para construir um movimento diversificado e irresistível, com base em um pensamento político, coerente e conceitual.
Silke Helfrich
Tradução Adriana Guimarães
As múltiplas crises nos setores de alimentação & desenvolvimento, clima & meio ambiente e finanças retratam uma crise de idéias. Por isso, novas idéias, coerentes e poderosas são urgentemente necessárias. O Fórum Social Mundial mostrou durante cerca de uma década, que essas idéias (e alternativas) são abundantes! Uma delas conseguiu infiltrar-se na agenda do FSM durante o 9 º Fórum Social Mundial 2009, em Belém. Depois de um debate frutífero e aberto em Belém, o manifesto “Reinvidicando os bens comuns” foi lançado. Ele foi pensado como uma espécie de “Chamada Global para uma campanha de mobilização internacional para recuperar, proteger e recriar os bens comuns”. Assim, o FSM abriu “um espaço participativo, que nos permite compartilhar e discutir idéias e iniciativas em relação ao futuro do espaço comum.” O Manifesto está disponível em 8 línguas para receber assinaturas e ser debatido.
Nas páginas seguintes pretendo explicar:
- Primeiramente, porque eu acredito que, com base em fonte literalmente inesgotável de experiências práticas em todo o mundo, os bens comuns estimulam múltiplas respostas para múltiplas crises.- em segundo lugar, porque eu acredito que os bens comuns como paradigma e visão de mundo podem se converter em um conceito de base para uma plataforma estratégica para os movimentos sociais, e para além e- e finalmente, porque o momento certo para os bens comuns chegou.Isso fará com que você compreenda facilmente porque eu estou dentre os que apoiaram o Manifesto desde seu início.
Os bens comuns como um paradigma comum para os movimentos sociais e além
Nós só podemos promover o bem comum como nova narrativa para o século 21 se eles forem identificados como um denominador comum por diferentes movimentos sociais e escolas de pensamento. No meu ponto de vista, a imposição dos bens comuns seria não só possível, mas estrategicamente inteligente. Aqui estão 15 razões por que acredito nisto:
1. Os bens comuns estão em toda parte. Eles determinam nossa qualidade de vida de muitas e importantes maneiras. Estão presentes (embora muitas vezes invisíveis) nas esferas social, natural, cultural e digital. Pense sobre as coisas que usamos para aprender (ler e escrever), as coisas que usamos para nos mover (terra, ar e mar), as coisas que usamos para nos comunicar (idioma, música e código), as coisas que usamos para alimentar e curar (terra, água, remédios), ou as coisas das quais depende nossa reprodução (genes, vida social). Os bens comuns têm a ver com compartilhar e usar todas essas coisas. Eles são uma vívida forma de reprodução das nossas relações sociais - a qualquer momento. Portanto, eles são melhor descritos com um verbo (COMMONING, ou “comunar” em português) ao invés de um substantivo (bens comuns). Os bens comuns são um tipo especial de prática de utilização e produção de conhecimentos e bens materiais, onde o valor de uso é privilegiado sobre o valor de troca.
“Comunar” é uma prática que nos permite tomar nossas vidas em nossas próprias mãos, proteger e ampliar o que é comum a nós ao invés de testemunhar sua clausura e privatização. Os direitos daqueles que “comunam” são independentes da convenção formal e do direito positivo. Nós simplesmente os possuímos sem ter que pedir permissão para ninguém e os compartilhamos com outros. Os bens comuns oferecem um tipo diferenciado de liberdade daquela que provém do mercado. Assim, a boa notícia é que: quando nos concentramos nos bens comuns, nos concentramos em como mudar as coisas a partir da esfera do mercado para a esfera do bem comum, nos concentramos em como mudar a autoridade e a responsabilidade de burocracias estatais para as muitas possibilidades de “governo dos comuns” por seus usuários e nos concentramos em muitas questões e recursos - como os 75% por cento da biomassa do mundo - que ainda não estão mercantilizados. Isto é encorajador.
2. Os bens comuns ligam setores e comunidades, oferecem uma estrutura para a convergência e consolidação dos movimentos. As questões com que temos que lidar se tornaram demasiadamente complexas. A fim de reduzir a complexidade, fragmentamos o que deve permanecer junto. No debate político público há uma divisão em diferentes domínios do conhecimento e autoridade. Há aqueles que discutem questões relacionadas aos recursos naturais (os “ecos”) e aqueles que discutem as questões culturais & digitais (os “technos”). O resultado são comunidades (excessivamente) especializadas para cada uma das centenas de problemas com que nos confrontamos e muitos elos perdidos. Para a própria diversidade do espaço comum, essa fragmentação vai continuar, em certa medida, mas também contribui para uma perda da nossa capacidade comum de acompanhar o andamento dos processos econômicos, políticos e tecnológicos e as mudanças. Isso diminui a nossa capacidade de reagir às mudanças e cuidadosamente encaminhar propostas que sejam alternativas e coerentes. Os bens comuns podem unificar diferentes movimentos de mudança social, mesmo aqueles que têm uma dinâmica profundamente diferente, porque eles permitem-nos concentrar no que todos os recursos comuns e as pessoas têm em comum e não no que os separa. A água é finita, o conhecimento não é. Atmosfera é global, um parque não é. As idéias crescem quando as dividimos, a terra não. Mas todos são recursos comuns. Portanto nenhum deles pode ser propriedade exclusiva de uma única pessoa. Todos estão ligados a uma comunidade. Todos são mais bem governados se as regras e normas são auto-determinadas ou consideradas altamente legítimas pelo povo que tem que contar com esses recursos.
3. Os bens comuns reformulam o debate sobre propriedade para além da (às vezes inútil) definição de público versus privado. O reinvidicação pela propriedade pública continua a ser importante, mas os Estados serviram realmente como depositários conscienciosos dos bens comuns? Não. Eles realmente protegem os conhecimentos tradicionais, florestas, água e biodiversidade? Não em todo lugar. Há muito mais do que o “público” e o “privado”. Um recurso comum pode ser possuído por um curto espaço de tempo (para reproduzir os nossos meios de subsistência), mas não podemos fazer com ele o que queremos. -+ A propriedade permite. E a propriedade permite o abuso e a mercantilização, a rentabilização máxima e a “externalização” dos custos sobre os bens comuns - um processo em curso no final do qual todos nós estaremos em pior situação. Mesmo os mais ricos entre nós, estimulados a fugir para condomínios fechados.
4. A perspectiva dos bens comuns não é uma forma digital de pensar. O seu modo não é binário, 0 - 1, um ou outro. Também não foca nos pontos principais, como um único número de “sucesso”. Nossa busca é por soluções para além de pólos opostos e métricas numéricas de “sucesso”. Não é simplesmente privado versus público, nem a direita versus a esquerda, a cooperação versus a competição, “mão invisível” do mercado contra o planejamento do Estado, dos que são a favor da tecnologia versus os antitecnologia. De uma perspectiva dos bens comuns o foco está no terceiro elemento esquecido. Ele aprofunda a nossa compreensão sobre a propriedade comum e os princípios universais que trabalham para as pessoas e protegem os seus recursos comuns. No setor de bens comuns, priorizamos aprender mais sobre a cooperação do que sobre a competição. Os bens comuns reforçam regras auto-determinadas e tecnologias abertas comumente desenvolvidas e controladas, ao invés de tecnologias proprietárias, que tendem a concentrar o poder dentro de elites e permitem que elas nos controlem.
5. Falar sobre os bens comuns significa focar na diversidade. Nas palavras do ex-governador Olívio Dutra (Rio Grande do Sul) durante o “Fórum Social Mundial 10 anos depois”: “Eles permitem a unidade dentro da pluralidade e da diversidade”. A definição, mas não a posição defensiva é: “um mundo no qual cabem muitos mundos”. Sem dúvida, um dos pontos fortes desta abordagem reside na idéia de que não há soluções simplistas, padrões institucionais ou nenhuma panacéia “tamanho único”, apenas princípios universais, tais como reciprocidade, cooperação, transparência, respeito à diversidade e outros. Cada comunidade tem que determinar as regras adequadas sobre como acessar, usar e controlar um sistema de recursos comuns baseado nesses princípios. Isto é algo complexo - assim como é a relação entre natureza e sociedade - especialmente quando falamos sobre bens comuns globais. Lá, a “comunidade” é a humanidade inteira, o que se refere à própria necessidade de um novo multilateralismo baseado em uma abordagem livre.
6. Para nos centrarmos na questão dos bens comuns devemos equilibrar três grandes Cs: Cooperação, Comando e Concorrência. Não há cooperação sem competição e vice-versa, mas em uma sociedade baseada nos bens comuns o reconhecimento é adquirido por aqueles que melhor desempenham a cooperação e não a competição. O slogan é: Extrapole a cooperação e não a competição. As regras específicas para a cooperação em um sistema de bens comuns variam de configuração para configuração. Ninguém pode comandá-las de cima. Da pesquisa e prática ligadas aos bens comuns aprendemos que por todo o mundo muitos sistemas de governança de bens comuns são autoreguláveis, o que significa que eles estão criando seus próprios sistemas de monitoramento. Ou eles são autoreguláveis e se coordenam em diferentes níveis institucionais. Quanto ao “comando”, o prêmio Nobel Elinor Ostrom aconselha: “É melhor induzir a cooperação com mecanismos institucionais equipados para os ecossistemas locais do que tentar comando à distância.” Ao mesmo tempo, “os sistemas vindos de cima” - governos, leis, organismos internacionais - podem ser extremamente importantes para o empoderamento e facilitação dos bens comuns. Mas para fazer isso, eles precisam de uma perspectiva de bens comuns inscrita nas suas lógicas e políticas arquitetônicas.
7. Os bens comuns não separam a dimensão ecológica da social como um foco tipo “Green New Deal” faz. Até certo ponto, pode ser útil tornar visível o “valor econômico” dos recursos naturais e certamente é necessário internalizar os custos ecológicos de produção em todo o processo produtivo. Mas isso não é suficiente. Tal enfoque não aborda a dimensão social do problema e tende a aprofundar as estruturas tendenciosas de mercado, ligando as soluções ao acesso ao dinheiro. Então, aquele que tem pode pagar a internalização do custo. Aquele que não tem está em maus lençóis. Ao invés disso, as dimensões ecológica e social encontram uma explicação comum nos bens comuns. Não existe solução baseada em uma perspectiva de bens comuns onde aqueles que não têm, estão em situação pior.
8. O conceito de bens comuns integra diferentes visões de mundo: existem atrativos para o pensamento socialista (por exemplo, a posse comum), para os anarquistas (a abordagem auto-organizacional), para o pensamento conservador (valorizando a proteção da criação), obviamente, para as idéias comunitárias e cosmopolitas (abordagem da diversidade integral) e até mesmo para os liberais (distância da responsabilidade do Estado e o respeito pelos interesses e motivações individuais em aderir a uma comunidade ou um projeto). Mas é claro que os bens comuns não podem ser um programa de partido político único. Essa é a sua força e é por isso que atores políticos da corrente principal muitas vezes não compreendem os bens comuns e até mesmo tentam cooptá-los. Se realmente desejamos um discurso coerente sobre os bens comuns (ver 9), eles não serão bem sucedidos.
9. O valor de referência para a integração de diferentes idéias políticas dentro de um paradigma de bens comuns é clara e tem três objetivos: (a) uso sustentável e respeitoso dos recursos (social, natural e cultural incluindo o digital), o que significa: sem o uso excessivo ou subutilização de recursos comuns (b) a partilha equitativa dos recursos comuns, bem como participação em todos os processos decisórios sobre o acesso, uso e controle desses recursos e (c) o livre desenvolvimento da criatividade e da individualidade das pessoas, sem sacrificar o interesse coletivo.
10. Os bens comuns não têm um, mas muitos centros. Suas estruturas de governança são descentralizadas e variadas também. Em outras palavras: é característico para os bens comuns ser policêntrico, o que defende uma abordagem profundamente democratizante, tanto politicamente (princípios da descentralização, subsidiariedade e soberania do povo e da tomada de decisão) e economicamente (o “modo de produção dos comuns” nos faz menos dependentes do dinheiro e do mercado).
11. Os bens comuns reforçam a crença essencial sobre seres humanos e comportamento. Não somos apenas, nem principalmente o “homo oeconomicus” que nos fizeram crer ser. Somos muito mais do que criaturas egoístas atrás dos nossos próprios interesses. Precisamos e gostamos de estar envolvidos em uma rede social. “Os bens comuns são a teia da vida”, afirma Vandana Shiva. Gostamos de contribuir, cuidar e compartilhar. Os bens comuns reforçam a confiança no potencial criativo das pessoas e na idéia de interrelacionalidade, o que significa: “Eu preciso dos outros e os outros precisam de mim.” Eles honram a nossa liberdade de contribuir e partilhar. Este é um tipo de liberdade diferente da liberdade em que o mercado está baseado. Quanto mais contribuirmos, maior será o nosso acesso às coisas. Mas note: não é simplesmente “acesso a tudo de graça”.
12. Os bens comuns oferecem ferramentas de análise que surgem a partir de categorias diferentes daquelas do capitalismo e, portanto, o conceito contribui para “descolonizar nosso pensamento”. (Grzybowski) Aqueles que “comunam” redefinem a “eficiência”. Eles perguntam como cooperar “eficientemente” e como incentivar e capacitar as pessoas para também fazê-lo? Eles reivindicam direitos de uso (de curto prazo) para reproduzir seus meios de subsistência, em vez da propriedade ilimitada. Eles honram as formas tradicionais de proteger os bens comuns, bem como os sistemas de conhecimento tradicionais. Em suma: os bens comuns jogam nova luz sobre muitos dos antigos processos regulatórios políticos e jurídicos. Faz uma grande diferença o fato de eu ver o ambiente como um bem comum ou como uma mercadoria para ser comercializada. Faz diferença se a água é entendida como um bem comum, o que significa intimamente ligada às necessidades das comunidades, ou não. Ou considere as sementes; conceber a diversidade das sementes como algo livre significa: autodeterminação da colheita e segurança alimentar. Se a sociedade reconhecesse a diversidade regional de sementes como um bem comum, o Estado colocaria todos os recursos disponíveis para produção independente e orgânica de sementes e para proteger os pequenos agricultores para que estes continuem sua forma tradicional de desenvolvimento de sementes ao invés de desperdiçar o dinheiro dos contribuintes com manipulação genética e engenharia de sementes.
13. No setor de bens comuns, há uma grande diversidade e quantidade de atores. Ao longo dos últimos anos, o interesse internacional no paradigma dos bens comuns se acelerou. Várias organizações e cidadãos têm agora significativos círculos transnacionais (Creative Commons, Wikipedia, Software Livre e Movimento da Cultura Livre, plataformas de partilha, organizações antimineração, alianças que trabalham para uma abordagem de Bem Viver, movimentos em todo o mundo para uma agricultura sustentável, Água como Bem Comum - Water Commons, hortas comunitárias, projetos para a comunicação e informação do cidadão e muitos outros). Na verdade, é um crescimento espontâneo e explosivo de diversas iniciativas comuns. Desde que Elinor Ostrom ganhou o Prêmio Nobel de Economia (Outubro 2009), muitas universidades têm redescoberto o interesse acadêmico pelos bens comuns.
14. Os bens comuns são um modo alternativo de produção. Os problemas com que nos confrontamos não são problemas de disponibilidade de recursos. São problemas que surgem a partir do modo de produção atual. Felizmente, em algumas áreas, estamos testemunhando uma mudança do modo de produção capitalista (baseada na propriedade, comando, troca de valor através de dinheiro, exploração de recursos e do trabalho, dependentes do crescimento e com o lucro como único objetivo) em um modo livre de produção (baseado na posse, contribuição, partilha, auto-interesse e iniciativa, onde o PIB é um indicador insignificante e o objetivo é uma vida boa
Por que agora? Porque o momento é propício para os bens comuns.
1. Dado o momento histórico de mudança, os bens comuns estão atualmente sendo redescobertos em muitos contextos. O Mercado e o Estado (sozinhos) falharam tanto na proteção dos recursos comuns na satisfação das necessidades dos povos. Na verdade, o fundamentalismo do mercado livre que prevalece neste momento está ameaçado. Seu sistema de análise econômica, políticas públicas e visão de mundo estão perdendo o seu valor explicativo, para não mencionar o apoio do público. Mais e mais pessoas percebem que não é por causa do mercado que nós apreciamos a biodiversidade, a diversidade cultural e as redes sociais!
2. As novas tecnologias permitem novas formas de cooperação e a produção descentralizada do que, até agora, têm sido tecnologias essenciais monopolizadas da era industrial. Hoje, podemos deslocar até a energia ou a produção de eletricidade para os bens comuns sociais (estações de energia solar cidadã, estações de energia caseiras). Podemos decidir quais são as notícias e informações úteis para a comunidade e reproduzi-las com “a maior máquina de copiar” que já existiu: a internet. A grande revolução em curso na produção permite uma mudança de regras. Esta é uma grande ameaça para os monopólios.
3. Os processos em curso colocam o indivíduo em posição de participar de um contexto mais amplo. A perspectiva moderna dos bens comuns não é dirigida para o passado. A perspectiva não é de mera relocalização. O horizonte aponta para a cooperação local, descentralizada e horizontal em redes distribuídas de modo que as pessoas possam se capacitar para criar coisas juntas, disponíveis para elas e outras - se quiserem. O objetivo é ampliar o setor de bens comuns e da produção baseada em bens comuns tanto quanto possível e depender cada vez menos do mercado. Isso só será possível se o novo modo de produção for capaz de resolver até mesmo problemas complexos, se for capaz de produzir artefatos coletivamente que mesmo grandes empresas teriam dificuldades para preparar logisticamente, financeiramente e conceitualmente. E pronto! Basta pensar sobre a Wikipedia ou um carro que aceita qualquer tipo de energia. Talvez tivéssemos sido capazes de desenvolver VIPs (veículos de transporte individual), com base em 100% de materiais recicláveis, que consomem apenas um litro/100km se as empresas não tivessem restringido as tecnologias e controlado o mercado. Em um mundo onde o modo de produção baseado em bens comuns é geral, não há mais centro e periferia.
4. Há novas formas jurídicas para proteger os direitos de uso coletivo e livre e/ou acesso equitativo aos bens comuns: a Licença Pública Geral (GPL), as licenças Share Alike, modelos de apropriação dos recursos naturais, com um mecanismo embutido para proteger contra a especulação e evitar a superexploração, fundos de ações de um único recurso comum, os sistemas acequia e Johads de gestão da água no México e Índia ou o Allemansrätten (direitos de cada pessoa) em países da Europa Setentrional. Estas são ferramentas poderosas sobre as quais temos muito que aprender e desenvolver. É uma área onde precisamos de uma boa dose de pensamento jurídico criativo e inovação e precisamos de respeito pela grande variedade de regras formais e informais para proteger os bens comuns em todo o mundo.
5. E por último, mas não menos importante: uma vez que você inicia sua caminhada no mundo dos bens comuns, você descobre coisas novas e impressionantes. Você se conecta com centenas de comunidades dinâmicas. Você tem insights inesperados, descobre projetos estimulantes e idéias e multiplica suas redes. É energizante. Você sabia que existe um projeto chamado Open Cola? Ou que o maior lago da Nova Zelândia, o Lago Taupo, está cheio de trutas? Na região de Taupo muito turística, há uma pressão muito grande sobre os recursos, mas a população continua a desfrutar da truta do lago, porque os neozelandeses seguem uma regra simples: Pesque o que você precisa para comer (para fazer isso, você obtém uma licença de pesca das autoridades locais), mas não venda. Assim, você não vai encontrar nenhuma truta nos menus das centenas de restaurantes na região. Lembre-se: Os bens comuns não estão à venda. Ou será que você sabe algo sobre a biologia de código aberto e medicina participativa? Você já ouviu falar sobre os inúmeros bancos de sementes locais - especialmente no sul - e os incríveis tesouros que eles desenvolvem para nós? Você sabe em que ponto se encontra a luta do crescente movimento internacional de acesso aberto da publicação acadêmica em seu esforço para ter certeza de que teremos livre acesso ao que foi publicamente financiado para a produção do conhecimento? Você sabe algo sobre o intercultural e os movimentos para as hortas comunitárias ou sobre os regimes utilizados pelos pescadores de lagosta do Maine/E.U.A. para evitar o excesso de pesca da lagosta? E a participação dos bens comuns nas crises, quando centenas de voluntários contribuem com seu conhecimento e coletam informações utilizando modernas tecnologias da informação para o apoio à ajuda humanitária no Haiti pós-terremoto, por exemplo?
Os bens comuns trazem o entusiasmo de volta para os debates políticos. Os jovens são todo ouvidos quando eles aprendem sobre produção coletiva de um para um, porque é isso que eles fazem. Os “ecos” são todo ouvidos quando eles descobrem o princípio de copyleft, que permite a reprodução viral de software e de conteúdo. Eles aprendem que “este treco complicado de licença” significa a defesa da nossa liberdade de acesso aos conhecimentos e técnicas culturais. É precisamente o que eles dizem no seu campo. Os “technos” se motivam a utilizar suas incríveis habilidades para ajudar a gerir sistemas complexos de recursos naturais. Em outras palavras: os bens comuns ampliam o horizonte e sopram uma brisa fresca no pensamento e prática coletivos não-dogmáticos e dinâmicos.
Os bens comuns são um conceito poderoso, autocapacitante e empoderante para a constante recriação de uma vida digna. É o que precisamos para construir um movimento diversificado e irresistível, com base em um pensamento político, coerente e conceitual.
Silke Helfrich
Tradução Adriana Guimarães
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Reunião de avaliação do 4° Seminário
Agendem-se:
Data: 02 de março (terça-feira)
Hora: 14h
Local: SACIS - Pref. Municipal de São Leopoldo - Rua São Joaquim, 600 - São Leopoldo
Sua participação será bem importante! Pedimos para que todos levem consigo suas avaliações e de sua instituição para que possamos construir um bom Raio X do vivido para planejar qualificadamente a continuidade do processo.
Lembramos que esta continuidade foi traçada brevemente ao final do Seminário e que tem um instrumento potente para isso que é a Agenda...
Data: 02 de março (terça-feira)
Hora: 14h
Local: SACIS - Pref. Municipal de São Leopoldo - Rua São Joaquim, 600 - São Leopoldo
Sua participação será bem importante! Pedimos para que todos levem consigo suas avaliações e de sua instituição para que possamos construir um bom Raio X do vivido para planejar qualificadamente a continuidade do processo.
Lembramos que esta continuidade foi traçada brevemente ao final do Seminário e que tem um instrumento potente para isso que é a Agenda...
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Seminário sobre Políticas Sociais lota Anfiteatro Padre Werner da UNISINOS.
FSM 2010- Porto Alegre/RS
Seminário sobre Políticas Sociais lota Anfiteatro Padre Werner da UNISINOS.
São Leopoldo/RS - Frente a um anfiteatro lotado, o professor titular da Universidade de Coimbra Boaventura de Souza Santos e a senadora Marina Silva (PV), falaram sobre políticas sociais, direitos de indígenas e afrodescendentes e desmatamento. Os dois participaram ontem no segundo painel do 4º Seminário de Políticas Sociais: O Papel Público das Políticas na Garantia dos Direitos Sociais, dentro da programação do Fórum Social Mundial (FSM), que ocorreu no Anfiteatro Padre Werner, na UNISINOS.
Silvio Caccia Bava, representante do Instituto Polis e do jornal Le Monde Diplomatique; e Hélios Puig Gonzáles, da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, foram os painelistas na primeira parte do seminário, em mesa coordenada por Salvatore Santagada representando o SINSOCIÓLOGOS/RS.
Doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale, Boaventura de Souza Santos começou falando sobre o contexto da América do Sul na última década. ‘‘Este continente teve uma década auspiciosa, com exceção da Colômbia, que pode via a ser um Israel da América do Sul’’ e arriscou previsões, embora dissesse que sociólogos não são bons no assunto. ‘‘Suspeito que a próxima década não seja tão brilhante e auspiciosa. Temos um novo governo de direita no Chile, não sabemos o que acontecerá com a Venezuela, há o apoio ao golpe de Estado nas Honduras. Esta década será mais exigente e tornará o Fórum Social Mundial ainda mais relevante do que foi até agora’’, salientou.
Ele enfatizou a importância de radicalizar a democracia não somente na política, mas também nas famílias, nas fábricas, na rua, nas empresas. Em todos os lugares. “Para que isso seja possível, não podemos ter medo e desistir. Temos que ir até o fim para obtermos algum resultado”.
Ao ser anunciada, Marina foi recebida de pé pelo público, sob fortes aplausos. A ex-ministra do Meio Ambiente era uma das presenças mais esperadas desta edição do Fórum. Boaventura, igualmente, garantiu o quorum, que lotou não somente o anfiteatro (720 lugares), mas outros dois espaços fora dele, onde foram colocadas telas extras. Até mesmo o criador do FSM, Oded Grajew, compareceu para prestigiar o evento.
Seminário sobre Políticas Sociais lota Anfiteatro Padre Werner da UNISINOS.
São Leopoldo/RS - Frente a um anfiteatro lotado, o professor titular da Universidade de Coimbra Boaventura de Souza Santos e a senadora Marina Silva (PV), falaram sobre políticas sociais, direitos de indígenas e afrodescendentes e desmatamento. Os dois participaram ontem no segundo painel do 4º Seminário de Políticas Sociais: O Papel Público das Políticas na Garantia dos Direitos Sociais, dentro da programação do Fórum Social Mundial (FSM), que ocorreu no Anfiteatro Padre Werner, na UNISINOS.
Silvio Caccia Bava, representante do Instituto Polis e do jornal Le Monde Diplomatique; e Hélios Puig Gonzáles, da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, foram os painelistas na primeira parte do seminário, em mesa coordenada por Salvatore Santagada representando o SINSOCIÓLOGOS/RS.
Doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale, Boaventura de Souza Santos começou falando sobre o contexto da América do Sul na última década. ‘‘Este continente teve uma década auspiciosa, com exceção da Colômbia, que pode via a ser um Israel da América do Sul’’ e arriscou previsões, embora dissesse que sociólogos não são bons no assunto. ‘‘Suspeito que a próxima década não seja tão brilhante e auspiciosa. Temos um novo governo de direita no Chile, não sabemos o que acontecerá com a Venezuela, há o apoio ao golpe de Estado nas Honduras. Esta década será mais exigente e tornará o Fórum Social Mundial ainda mais relevante do que foi até agora’’, salientou.
Ele enfatizou a importância de radicalizar a democracia não somente na política, mas também nas famílias, nas fábricas, na rua, nas empresas. Em todos os lugares. “Para que isso seja possível, não podemos ter medo e desistir. Temos que ir até o fim para obtermos algum resultado”.
Ao ser anunciada, Marina foi recebida de pé pelo público, sob fortes aplausos. A ex-ministra do Meio Ambiente era uma das presenças mais esperadas desta edição do Fórum. Boaventura, igualmente, garantiu o quorum, que lotou não somente o anfiteatro (720 lugares), mas outros dois espaços fora dele, onde foram colocadas telas extras. Até mesmo o criador do FSM, Oded Grajew, compareceu para prestigiar o evento.
O Fórum Social Mundial desafiado por novas perspectivas. Entrevista Especial com Boaventura de Sousa Santos
Entramos no milênio com um sentimento contraditório, disse o sociólogo Boaventura de Sousa Santos para a platéia que o assistia na tarde do dia 27-1-2010, no Anfiteatro Padre Werner, no 4º Seminário de Políticas Sociais, parte da programação do Fórum Social Mundial. Sem otimismo, ele assegurou que a próxima década será menos fácil para as forças progressistas e os movimentos sociais. “Venho do Equador e vejo tensões muito fortes entre o governo e o movimento indígena, justamente num país cuja a Constituição tem uma enorme influência indígena. Isto também é um mau sinal”.
Por outro lado, o sociólogo apontou uma novidade no continente latino-americano: o resgate do conceito de suma causa, presente na tradição indígena, ou seja, a necessidade de pensar a natureza, a harmonia cósmica, o bem-estar social. Essa concessão holística “exclui a acumulação e o lucro como fins em si mesmo e (...) é baseada na simplicidade, nos valores comunitários (...), uma maneira completamente diferente de entender a economia”. Esse resgate está relacionado a um processo de descolonização da América Latina. “Só agora muitos países estão se dando conta disso, devido a ação dos novos protagonistas indígenas e afro-descendentes”.
Depois da apresentação de sua conferência, Boaventura conversou com a IHU On-Line e falou sobre o fracasso que Copenhague representou para os movimentos sociais e mencionou suas expectativas em relação ao futuro do Fórum Social Mundial nos próximos anos.
Boaventura de Sousa Santos é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É igualmente diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, diretor do Centro de Documentação 25 de Abril da mesma Universidade e coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa. Entre sua vasta produção bibliográfica, citamos Epistemologias do sul (Coimbra: Edições Almedina, 2009); A universidade no século XXI. Para uma universidade nova (Coimbra: Edições Almedina, 2008); A gramática do tempo: para uma nova cultura política (Porto: Afrontamento, 2007); Para uma revolução democrática da justiça (São Paulo: Cortez Editora, 2007).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Copenhague foi um fracasso, uma derrota para os movimentos sociais?
Boaventura de Sousa Santos – De alguma maneira foi um fracasso, sim. Não conseguimos impor em Copenhague uma visão coerente, alternativa àquela que estava sendo posta pelos países desenvolvidos, com alguma conivência dos países em desenvolvimento. Isso resultava do fato de que em Bali, numa conferência preparatória, os EUA declararam que não estavam preparados para impor metas para a redução do CO2. Quando os EUA disseram isso, todos os países já sabiam que não iriam se envolver em grandes metas vinculativas, porque os americanos ficariam de fora. Aliás, os EUA têm um hábito extraordinário de não participar das convenções internacionais. Portanto, Copenhague já era um fracasso anunciado. O que houve, obviamente, foi uma tentativa, e essa com êxito, de que não se assinassem documentos que mostrassem a hipocrisia total de todo o sistema. Mais vale aceitar um fracasso e ver se no México, ainda este ano, é possível fazer alguns avanços.
"De alguma maneira foi um fracasso, sim. Não conseguimos impor em Copenhague uma visão coerente, alternativa àquela que estava sendo posta pelos países desenvolvidos"
É evidente que os países ricos e desenvolvidos têm que ter a sua cota de responsabilidade. Em seu discurso no Gigantinho, o presidente Lula disse que quem polui há 200 anos não pode ter as mesmas responsabilidades daqueles que poluem a cinco ou dez anos. Isso é perfeitamente justo, mas muito difícil de ser compreendido pelos governantes da Europa ou dos EUA. Portanto, esse é um processo lento, até porque temos outros gigantes emergentes como a China, a qual, usando este argumento, não está disposta a desenvolver uma economia de baixo carbono. Por outro lado, temos a Coréia do Sul, um exemplo de país capitalista desenvolvido que está neste momento fazendo uma conversão notável para a economia do baixo carbono, anunciando novos modelos de produção, que podem ter algum futuro dentro do modelo capitalista.
IHU On-Line – Qual será o papel político e social do Fórum Social Mundial nos próximos dez anos? Que futuro o senhor vislumbra para o encontro?
Boaventura de Sousa Santos – O Fórum Social Mundial, que teve um impacto notável nesta última década, vai ser cada vez mais relevante se forem tomadas algumas medidas. A primeira, no meu entender, é que ele deve ser verdadeiramente mundial. Da perspectiva sociológica ou social-política, o Fórum foi, sobretudo, latino-americano. Foi na América Latina que ele conquistou a imaginação dos movimentos sociais, dos lideres políticos que aqui vieram certos de que estavam diante de um evento importante. Não conseguimos fazer isso na Europa, nem na Ásia, nem na África, apesar de termos realizados fóruns sociais nesses continentes.
Penso que deve haver mudanças e o fato de o próximo Fórum Social Mundial ser em Dakar, pode já anunciar a possibilidade de algo mais forte neste sentido. Em segundo lugar, penso que o Fórum Social Mundial tem que se preparar para, em áreas consensuais, poder apresentar publicamente e internacionalmente posições do Fórum Social Mundial. Teria sido bom se, por exemplo, em Copenhague nós tivéssemos tido a posição do Fórum Social Mundial. Estiveram lá algumas organizações que fazem parte do Fórum, só que elas atuaram como organizações e não como organizações do Fórum Social Mundial. Mas aí é preciso haver alguma evolução. Em terceiro lugar, o Fórum deve tentar promover algumas ações coletivas de formação como, por exemplo, a minha proposta da universidade popular dos movimentos sociais, ou outras sugestões de articulação de ações coletivas. Hoje, o Fórum é a melhor opção para se tentar uma nova articulação entre partidos e movimentos. Ele nasceu num período de crise dos partidos com o objetivo de mostrar que há outras formas de representação. O interessante é que hoje temos partidos novos no continente que querem ver como é possível ter uma relação diferente com os movimentos sociais, articulando-se com eles, respeitando sua autonomia, mas trabalhando juntos para políticas progressistas.
"Teria sido bom se, por exemplo, em Copenhague nós tivéssemos tido a posição do Fórum Social Mundial"
IHU On-Line – Por que a próxima década será menos fácil para os movimentos sociais e forças progressistas?
Boaventura de Sousa Santos – Os avanços nunca são irreversíveis e os retrocessos nunca são finais. O que digo é que a conjuntura política internacional dá alguns sinais que podem ser positivos para este continente, mas também sinaliza aspectos que podem ser negativos. O mais negativo de todos é o fato de os EUA terem se virado para a América Latina. Quando isso acontece geralmente temos más notícias, sobretudo quando o país não decide abandonar a sua obsessão com os recursos naturais e a sua segurança. Os EUA são hoje um país que está cada vez mais isolado. Um cidadão europeu viaja por todo o mundo sem precisar de visto para entrar em muitos países. Um cidadão estadunidense, contudo, precisa de visto, hoje, para entrar em 93 países. É muito difícil um norte-americano conseguir obter um visto para entrar no Brasil, porque é muito complicado para um brasileiro obter o visto para entrar nos EUA.
Essa preocupação com a segurança fez com que tenhamos o problema do Haiti. As informações que temos mostram que os EUA transformaram o Haiti numa zona de ocupação e, sobretudo, numa zona segura, para não se repetir o que aconteceu na Somália. Com base nisso, não deram a ajuda humanitária que deveriam dar. Esses são maus sinais. Por outro lado, nem sempre os governos progressistas souberam manter a ligação com a sociedade civil e os movimentos sociais. Venho do Equador e vejo tensões muito fortes entre o governo e o movimento indígena, justamente num país cuja Constituição tem uma enorme influência indígena. Isto também é um mau sinal. Vejo que há sinais também de separação entre o presidente Chávez e os movimentos sociais. Não sabemos o que vai acontecer nas próximas eleições na Venezuela: golpe de Estado? Não imagino. Mas, como digo, as previsões não pertencem aos sociólogos.
"Por outro lado, os governos progressistas, além de não terem criado condições de ter uma relação com a sociedade civil melhor, também não tiveram políticas inovadoras no modelo econômico"
Por outro lado, os governos progressistas, além de não terem criado condições de ter uma relação com a sociedade civil melhor, também não tiveram políticas inovadoras no modelo econômico. Ainda hoje, como eu disse, não temos nenhuma política nova a não ser essa do Equador, que, em sua Constituição valoriza a filosofia ancestral do sumak kawsay (bem viver) e os direitos da Pachamama. Essa é uma das poucas formas que pode ser apontada para outro modelo de desenvolvimento. Portanto, muitas das políticas adotadas pela esquerda podem ser apropriadas por governos de direita, sem problema nenhum. De todo modo, esses são indicativos de preocupação.
IHU On-Line – Qual vai ser o papel do Fórum Social Mundial nesse contexto de dificuldade?
Boaventura de Sousa Santos – Penso que o Fórum Social Mundial vai ser muito importante para permitir uma solidariedade internacional e continental para os fatos que ainda podem acontecer. Penso que nenhuma tentativa de desestabilizar os países pode ser feita. Podem dizer que em Honduras não houve uma grande solidariedade. Mas, lá, os movimentos sociais da América Latina foram paralisados por uma atitude inicial dos EUA, os quais achavam que não era necessária a organização dos movimentos sociais, porque o país iria respeitar Zelaya, presidente eleito, e como tal não aceitaria o golpe de Estado. Portanto, quando os cidadãos de Honduras sentiram necessidade de fazer manifestações, o fizeram sozinhos. De fato não houve uma grande solidariedade continental. Penso que o Fórum Social Mundial tem de se preparar para ser mais ativo nas capacidades organizativas da solidariedade continental.
O Fórum também pode ter a função de participar de debates que são novos no continente e que tem a ver com duas questões: justiça ambiental e justiça intercultural. É preciso apresentar-se diante dos dilemas ambientais e da questão indígena e afro-descendente, porque os políticos são muito produtivistas, não tem uma consciência ambiental.
"Ainda hoje, como eu disse, não temos nenhuma política nova a não ser essa do Equador, que, em sua Constituição valoriza a filosofia ancestral do sumak kawsay (bem viver) e os direitos da Pachamama. Essa é uma das poucas formas que pode ser apontada para outro modelo de desenvolvimento"
O Fórum Social Mundial, na área ambiental, da interculturalidade e da democracia participativa e comunitária, tem um papel muito forte no sentido de dinamizar estas áreas a nível continental e global. Como vamos fazer? Não sabemos muito bem. Evidente que há a lógica do consenso, de que não devemos assumir condições que façam perder este caráter inclusivo do Fórum Social Mundial. Portanto, vamos ver o que o futuro nos reserva.
IHU On-Line – Como o conceito de suma causa pode ser aplicado na conjuntura atual?
Boaventura de Sousa Santos – O conceito de suma causa, que quer dizer viver bem, apresenta um modelo social e econômico, aliás, essa distinção não faz muito sentido porque ela é uma concepção holística, e como tal envolve movimentos culturais, sociais, econômicos e religiosos, inclusive. Realmente é uma concepção que não se assenta na ideia do progresso no sentido ocidental, mas na ideia do desenvolvimento das pessoas, do florescimento dos indivíduos e da comunidade, ou seja, é um conceito que não se baseia num princípio individualista de pessoa, mas no conceito coletivo: a pessoa e sua sociedade. Não exclui, obviamente, as relações mercantis que sempre estiveram nas comunidades indígenas. Entretanto, exclui a acumulação e o lucro como fins em si mesmo e, portanto, é uma economia que mesmo quando tem algum elemento que pudesse ser semelhante a uma economia capitalista, centra-se sempre na unidade familiar. É uma concessão que parte da família e, normalmente quando a família não a apóia, ela desaparece. Portanto, é outro tipo de concepção, de construção de vida e de sociedade, baseada na simplicidade, nos valores comunitários. É uma maneira completamente diferente de entender a economia daquela que nós conhecemos como convencional.
IHU On-Line – O senhor alerta para a necessidade de assegurarmos todos os direitos conquistados até o momento. Como mantê-los e ampliá-los num período em que o diálogo entre movimentos sociais e os representantes do neoliberalismo é tão estreito?
Boaventura de Sousa Santos – Penso que uma luta não exclui a outra. Não podemos “embandeirar em arco”, isto é, ficarmos todos triunfalistas acerca das conquistas que temos como se elas fossem irreversíveis. Conquistou-se a democracia e isso é muito importante, mas não é irreversível. Temos que aprofundá-la e radicalizá-la. A única maneira para que isso ocorra é avançar para as novas conquistas, mas ter entendimento de que aquelas que já temos também não são perdidas. Não faz sentido consolidarmos, para dar um exemplo, a Conferência Nacional, onde os movimentos sociais e o Estado se juntam e, portanto, isso é muito importante. Essa é uma política do governo brasileiro, que cria conferências nacionais de articulação com a sociedade civil organizada. Isso não impede que se lute contra a criminalização dos movimentos sociais e, nomeadamente, do MST. Portanto, aqui está a defesa daquilo que temos: a legalidade dos movimentos sociais e, por outro lado, o avanço para outras lutas e um diálogo constante.
IHU On-Line – Como os três modos de democracia (representativa, participativa e comunitária) são capazes de radicalizar a democracia? A experiência dos povos indígenas é um exemplo a ser seguido nesse sentido?
Boaventura de Sousa Santos – Precisamente porque são formas diferentes de trabalhos democráticos, onde uma democracia indígena não exclui, inclusive, a democracia representativa e participativa. Ou seja, os povos indígenas, que, no âmbito de sua comunidade, em formas de liberação democrática por consenso, tomam decisões locais, são também aqueles que irão votar nas eleições nacionais. Então, articula a democracia comunitária com a democracia representativa. Não temos até agora formas ricas e criativas de democracia participativa além da nacional. Nós temos essas formas de democracia comunitária, participativa no âmbito municipal. Já tivemos no Rio Grande do Sul uma experiência de democracia participativa a nível estadual, com o Orçamento Participativo.
"Não temos até agora formas ricas e criativas de democracia participativa além da nacional"
IHU On-Line – O senhor diz que o Estado é o novo movimento social. Pode nos explicar essa ideia?
Boaventura de Sousa Santos – Fundamentalmente é uma metáfora que uso para distinguir os velhos movimentos sociais, os sindicatos, dos novos movimentos que surgiram como o das mulheres, os ecológicos e dos direitos humanos. Digo que agora há um novíssimo movimento social que é o próprio Estado. Vimos os movimentos sempre fora do Estado, e esquecemos um pouco dele. Realmente o Estado, entregue a si mesmo e a sua lógica, é capturado pela burocracia e pelos interesses econômicos dominantes. Portanto, é preciso que os movimentos sociais saibam que o Estado é um recurso importante e, neste país, temos uma boa lição: o MST, que trabalha fora do Estado e dentro dele. Mantém a sua autonomia, faz as suas ocupações, mas ao mesmo tempo seus assentamentos recebem financiamento do Estado, negociam com ele uma reforma agrária.
Tem que ser assim, complexo, porque o Estado é hoje uma relação social contraditória. Nós estamos numa altura em que apontamos o Estado como capitalista e como tal não podemos intervir nas suas lutas. Há hoje grupos sociais, os anarquistas, sobretudo, que continuam a pensar assim. Penso que não é isso que está em jogo. O Estado é uma relação contraditória e uma relação que pode ser apropriada pelas classes populares, se não totalmente, pelo menos, parcialmente. É isso que está ocorrendo no continente latino-americano.
Por outro lado, o sociólogo apontou uma novidade no continente latino-americano: o resgate do conceito de suma causa, presente na tradição indígena, ou seja, a necessidade de pensar a natureza, a harmonia cósmica, o bem-estar social. Essa concessão holística “exclui a acumulação e o lucro como fins em si mesmo e (...) é baseada na simplicidade, nos valores comunitários (...), uma maneira completamente diferente de entender a economia”. Esse resgate está relacionado a um processo de descolonização da América Latina. “Só agora muitos países estão se dando conta disso, devido a ação dos novos protagonistas indígenas e afro-descendentes”.
Depois da apresentação de sua conferência, Boaventura conversou com a IHU On-Line e falou sobre o fracasso que Copenhague representou para os movimentos sociais e mencionou suas expectativas em relação ao futuro do Fórum Social Mundial nos próximos anos.
Boaventura de Sousa Santos é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É igualmente diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, diretor do Centro de Documentação 25 de Abril da mesma Universidade e coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa. Entre sua vasta produção bibliográfica, citamos Epistemologias do sul (Coimbra: Edições Almedina, 2009); A universidade no século XXI. Para uma universidade nova (Coimbra: Edições Almedina, 2008); A gramática do tempo: para uma nova cultura política (Porto: Afrontamento, 2007); Para uma revolução democrática da justiça (São Paulo: Cortez Editora, 2007).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Copenhague foi um fracasso, uma derrota para os movimentos sociais?
Boaventura de Sousa Santos – De alguma maneira foi um fracasso, sim. Não conseguimos impor em Copenhague uma visão coerente, alternativa àquela que estava sendo posta pelos países desenvolvidos, com alguma conivência dos países em desenvolvimento. Isso resultava do fato de que em Bali, numa conferência preparatória, os EUA declararam que não estavam preparados para impor metas para a redução do CO2. Quando os EUA disseram isso, todos os países já sabiam que não iriam se envolver em grandes metas vinculativas, porque os americanos ficariam de fora. Aliás, os EUA têm um hábito extraordinário de não participar das convenções internacionais. Portanto, Copenhague já era um fracasso anunciado. O que houve, obviamente, foi uma tentativa, e essa com êxito, de que não se assinassem documentos que mostrassem a hipocrisia total de todo o sistema. Mais vale aceitar um fracasso e ver se no México, ainda este ano, é possível fazer alguns avanços.
"De alguma maneira foi um fracasso, sim. Não conseguimos impor em Copenhague uma visão coerente, alternativa àquela que estava sendo posta pelos países desenvolvidos"
É evidente que os países ricos e desenvolvidos têm que ter a sua cota de responsabilidade. Em seu discurso no Gigantinho, o presidente Lula disse que quem polui há 200 anos não pode ter as mesmas responsabilidades daqueles que poluem a cinco ou dez anos. Isso é perfeitamente justo, mas muito difícil de ser compreendido pelos governantes da Europa ou dos EUA. Portanto, esse é um processo lento, até porque temos outros gigantes emergentes como a China, a qual, usando este argumento, não está disposta a desenvolver uma economia de baixo carbono. Por outro lado, temos a Coréia do Sul, um exemplo de país capitalista desenvolvido que está neste momento fazendo uma conversão notável para a economia do baixo carbono, anunciando novos modelos de produção, que podem ter algum futuro dentro do modelo capitalista.
IHU On-Line – Qual será o papel político e social do Fórum Social Mundial nos próximos dez anos? Que futuro o senhor vislumbra para o encontro?
Boaventura de Sousa Santos – O Fórum Social Mundial, que teve um impacto notável nesta última década, vai ser cada vez mais relevante se forem tomadas algumas medidas. A primeira, no meu entender, é que ele deve ser verdadeiramente mundial. Da perspectiva sociológica ou social-política, o Fórum foi, sobretudo, latino-americano. Foi na América Latina que ele conquistou a imaginação dos movimentos sociais, dos lideres políticos que aqui vieram certos de que estavam diante de um evento importante. Não conseguimos fazer isso na Europa, nem na Ásia, nem na África, apesar de termos realizados fóruns sociais nesses continentes.
Penso que deve haver mudanças e o fato de o próximo Fórum Social Mundial ser em Dakar, pode já anunciar a possibilidade de algo mais forte neste sentido. Em segundo lugar, penso que o Fórum Social Mundial tem que se preparar para, em áreas consensuais, poder apresentar publicamente e internacionalmente posições do Fórum Social Mundial. Teria sido bom se, por exemplo, em Copenhague nós tivéssemos tido a posição do Fórum Social Mundial. Estiveram lá algumas organizações que fazem parte do Fórum, só que elas atuaram como organizações e não como organizações do Fórum Social Mundial. Mas aí é preciso haver alguma evolução. Em terceiro lugar, o Fórum deve tentar promover algumas ações coletivas de formação como, por exemplo, a minha proposta da universidade popular dos movimentos sociais, ou outras sugestões de articulação de ações coletivas. Hoje, o Fórum é a melhor opção para se tentar uma nova articulação entre partidos e movimentos. Ele nasceu num período de crise dos partidos com o objetivo de mostrar que há outras formas de representação. O interessante é que hoje temos partidos novos no continente que querem ver como é possível ter uma relação diferente com os movimentos sociais, articulando-se com eles, respeitando sua autonomia, mas trabalhando juntos para políticas progressistas.
"Teria sido bom se, por exemplo, em Copenhague nós tivéssemos tido a posição do Fórum Social Mundial"
IHU On-Line – Por que a próxima década será menos fácil para os movimentos sociais e forças progressistas?
Boaventura de Sousa Santos – Os avanços nunca são irreversíveis e os retrocessos nunca são finais. O que digo é que a conjuntura política internacional dá alguns sinais que podem ser positivos para este continente, mas também sinaliza aspectos que podem ser negativos. O mais negativo de todos é o fato de os EUA terem se virado para a América Latina. Quando isso acontece geralmente temos más notícias, sobretudo quando o país não decide abandonar a sua obsessão com os recursos naturais e a sua segurança. Os EUA são hoje um país que está cada vez mais isolado. Um cidadão europeu viaja por todo o mundo sem precisar de visto para entrar em muitos países. Um cidadão estadunidense, contudo, precisa de visto, hoje, para entrar em 93 países. É muito difícil um norte-americano conseguir obter um visto para entrar no Brasil, porque é muito complicado para um brasileiro obter o visto para entrar nos EUA.
Essa preocupação com a segurança fez com que tenhamos o problema do Haiti. As informações que temos mostram que os EUA transformaram o Haiti numa zona de ocupação e, sobretudo, numa zona segura, para não se repetir o que aconteceu na Somália. Com base nisso, não deram a ajuda humanitária que deveriam dar. Esses são maus sinais. Por outro lado, nem sempre os governos progressistas souberam manter a ligação com a sociedade civil e os movimentos sociais. Venho do Equador e vejo tensões muito fortes entre o governo e o movimento indígena, justamente num país cuja Constituição tem uma enorme influência indígena. Isto também é um mau sinal. Vejo que há sinais também de separação entre o presidente Chávez e os movimentos sociais. Não sabemos o que vai acontecer nas próximas eleições na Venezuela: golpe de Estado? Não imagino. Mas, como digo, as previsões não pertencem aos sociólogos.
"Por outro lado, os governos progressistas, além de não terem criado condições de ter uma relação com a sociedade civil melhor, também não tiveram políticas inovadoras no modelo econômico"
Por outro lado, os governos progressistas, além de não terem criado condições de ter uma relação com a sociedade civil melhor, também não tiveram políticas inovadoras no modelo econômico. Ainda hoje, como eu disse, não temos nenhuma política nova a não ser essa do Equador, que, em sua Constituição valoriza a filosofia ancestral do sumak kawsay (bem viver) e os direitos da Pachamama. Essa é uma das poucas formas que pode ser apontada para outro modelo de desenvolvimento. Portanto, muitas das políticas adotadas pela esquerda podem ser apropriadas por governos de direita, sem problema nenhum. De todo modo, esses são indicativos de preocupação.
IHU On-Line – Qual vai ser o papel do Fórum Social Mundial nesse contexto de dificuldade?
Boaventura de Sousa Santos – Penso que o Fórum Social Mundial vai ser muito importante para permitir uma solidariedade internacional e continental para os fatos que ainda podem acontecer. Penso que nenhuma tentativa de desestabilizar os países pode ser feita. Podem dizer que em Honduras não houve uma grande solidariedade. Mas, lá, os movimentos sociais da América Latina foram paralisados por uma atitude inicial dos EUA, os quais achavam que não era necessária a organização dos movimentos sociais, porque o país iria respeitar Zelaya, presidente eleito, e como tal não aceitaria o golpe de Estado. Portanto, quando os cidadãos de Honduras sentiram necessidade de fazer manifestações, o fizeram sozinhos. De fato não houve uma grande solidariedade continental. Penso que o Fórum Social Mundial tem de se preparar para ser mais ativo nas capacidades organizativas da solidariedade continental.
O Fórum também pode ter a função de participar de debates que são novos no continente e que tem a ver com duas questões: justiça ambiental e justiça intercultural. É preciso apresentar-se diante dos dilemas ambientais e da questão indígena e afro-descendente, porque os políticos são muito produtivistas, não tem uma consciência ambiental.
"Ainda hoje, como eu disse, não temos nenhuma política nova a não ser essa do Equador, que, em sua Constituição valoriza a filosofia ancestral do sumak kawsay (bem viver) e os direitos da Pachamama. Essa é uma das poucas formas que pode ser apontada para outro modelo de desenvolvimento"
O Fórum Social Mundial, na área ambiental, da interculturalidade e da democracia participativa e comunitária, tem um papel muito forte no sentido de dinamizar estas áreas a nível continental e global. Como vamos fazer? Não sabemos muito bem. Evidente que há a lógica do consenso, de que não devemos assumir condições que façam perder este caráter inclusivo do Fórum Social Mundial. Portanto, vamos ver o que o futuro nos reserva.
IHU On-Line – Como o conceito de suma causa pode ser aplicado na conjuntura atual?
Boaventura de Sousa Santos – O conceito de suma causa, que quer dizer viver bem, apresenta um modelo social e econômico, aliás, essa distinção não faz muito sentido porque ela é uma concepção holística, e como tal envolve movimentos culturais, sociais, econômicos e religiosos, inclusive. Realmente é uma concepção que não se assenta na ideia do progresso no sentido ocidental, mas na ideia do desenvolvimento das pessoas, do florescimento dos indivíduos e da comunidade, ou seja, é um conceito que não se baseia num princípio individualista de pessoa, mas no conceito coletivo: a pessoa e sua sociedade. Não exclui, obviamente, as relações mercantis que sempre estiveram nas comunidades indígenas. Entretanto, exclui a acumulação e o lucro como fins em si mesmo e, portanto, é uma economia que mesmo quando tem algum elemento que pudesse ser semelhante a uma economia capitalista, centra-se sempre na unidade familiar. É uma concessão que parte da família e, normalmente quando a família não a apóia, ela desaparece. Portanto, é outro tipo de concepção, de construção de vida e de sociedade, baseada na simplicidade, nos valores comunitários. É uma maneira completamente diferente de entender a economia daquela que nós conhecemos como convencional.
IHU On-Line – O senhor alerta para a necessidade de assegurarmos todos os direitos conquistados até o momento. Como mantê-los e ampliá-los num período em que o diálogo entre movimentos sociais e os representantes do neoliberalismo é tão estreito?
Boaventura de Sousa Santos – Penso que uma luta não exclui a outra. Não podemos “embandeirar em arco”, isto é, ficarmos todos triunfalistas acerca das conquistas que temos como se elas fossem irreversíveis. Conquistou-se a democracia e isso é muito importante, mas não é irreversível. Temos que aprofundá-la e radicalizá-la. A única maneira para que isso ocorra é avançar para as novas conquistas, mas ter entendimento de que aquelas que já temos também não são perdidas. Não faz sentido consolidarmos, para dar um exemplo, a Conferência Nacional, onde os movimentos sociais e o Estado se juntam e, portanto, isso é muito importante. Essa é uma política do governo brasileiro, que cria conferências nacionais de articulação com a sociedade civil organizada. Isso não impede que se lute contra a criminalização dos movimentos sociais e, nomeadamente, do MST. Portanto, aqui está a defesa daquilo que temos: a legalidade dos movimentos sociais e, por outro lado, o avanço para outras lutas e um diálogo constante.
IHU On-Line – Como os três modos de democracia (representativa, participativa e comunitária) são capazes de radicalizar a democracia? A experiência dos povos indígenas é um exemplo a ser seguido nesse sentido?
Boaventura de Sousa Santos – Precisamente porque são formas diferentes de trabalhos democráticos, onde uma democracia indígena não exclui, inclusive, a democracia representativa e participativa. Ou seja, os povos indígenas, que, no âmbito de sua comunidade, em formas de liberação democrática por consenso, tomam decisões locais, são também aqueles que irão votar nas eleições nacionais. Então, articula a democracia comunitária com a democracia representativa. Não temos até agora formas ricas e criativas de democracia participativa além da nacional. Nós temos essas formas de democracia comunitária, participativa no âmbito municipal. Já tivemos no Rio Grande do Sul uma experiência de democracia participativa a nível estadual, com o Orçamento Participativo.
"Não temos até agora formas ricas e criativas de democracia participativa além da nacional"
IHU On-Line – O senhor diz que o Estado é o novo movimento social. Pode nos explicar essa ideia?
Boaventura de Sousa Santos – Fundamentalmente é uma metáfora que uso para distinguir os velhos movimentos sociais, os sindicatos, dos novos movimentos que surgiram como o das mulheres, os ecológicos e dos direitos humanos. Digo que agora há um novíssimo movimento social que é o próprio Estado. Vimos os movimentos sempre fora do Estado, e esquecemos um pouco dele. Realmente o Estado, entregue a si mesmo e a sua lógica, é capturado pela burocracia e pelos interesses econômicos dominantes. Portanto, é preciso que os movimentos sociais saibam que o Estado é um recurso importante e, neste país, temos uma boa lição: o MST, que trabalha fora do Estado e dentro dele. Mantém a sua autonomia, faz as suas ocupações, mas ao mesmo tempo seus assentamentos recebem financiamento do Estado, negociam com ele uma reforma agrária.
Tem que ser assim, complexo, porque o Estado é hoje uma relação social contraditória. Nós estamos numa altura em que apontamos o Estado como capitalista e como tal não podemos intervir nas suas lutas. Há hoje grupos sociais, os anarquistas, sobretudo, que continuam a pensar assim. Penso que não é isso que está em jogo. O Estado é uma relação contraditória e uma relação que pode ser apropriada pelas classes populares, se não totalmente, pelo menos, parcialmente. É isso que está ocorrendo no continente latino-americano.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Aconteceu o 4º Seminário de Políticas Sociais...
O 4° Seminário de Políticas Sociais, evento do Fórum Social Mundial 2010, reafirma a necessidade das lutas garantidoras dos direitos à vida e, ao mesmo tempo, a importância da construção de uma mudança civilizatória.
Na tarde do dia 27 de janeiro a Unisinos acolheu em seu anfiteatro mais de 900 pessoas vindas de diferentes cidades da região metropolitana, do estado, do Brasil, da América latina e do mundo para a participação no 4º Seminário de Políticas Sociais, com o objetivo de debater o papel público das poíticas na garantia dos direitos sociais.
Esta realização foi resultado de um trabalho coletivo de pessoas e instituições historicamente comprometidas com a questão dos direitos sociais.
O aprofundamento desta temática foi garantido através do desenvolvimento de dois painéis. O primeiro com a retomada das concepções e marcas históricas das políticas sociais por Silvio Caccia Bava, juntamente com Helios Puig Gonzales, que apresentou indicadores da realidade reveladora das inúmeras fragilidades das políticas sociais na contemporaneidade. O segundo painel, que teve a participação de Boaventura de Sousa Santos e Marina Silva, problematizou a realidade contraditória e complexa, que apresenta desafios de lutas defensivas e ofensivas, garantindo direitos à vida em suas múltiplas dimensões e, ao mesmo tempo, apontando para uma mudança civilizatória urgente e necessária. Estas e outras questões apresentam-se em um contexto de democracia, que precisa ser democratizada.
As pontualizações e debates realizados subsidiaram uma importante contribuição de José Rogério Lopes na revisão e atualização da Agenda Mundial das Políticas Sociais, construída no 1° Seminário de Políticas Sociais há 8 anos, que necessita constituir-se como Agenda materializada na implementação cotidiana das Políticas pelos diferentes agentes, numa perspectiva emancipatória e radicalmente democrática, em vista da afirmação de fato de um outro mundo necessário e possível.
Nos próximos dias a Agenda estará disponiblizada no blog do Seminário, assim como no site do IHU Unsinos e das demais entidades promotoras.
Marilene Maia
Na tarde do dia 27 de janeiro a Unisinos acolheu em seu anfiteatro mais de 900 pessoas vindas de diferentes cidades da região metropolitana, do estado, do Brasil, da América latina e do mundo para a participação no 4º Seminário de Políticas Sociais, com o objetivo de debater o papel público das poíticas na garantia dos direitos sociais.
Esta realização foi resultado de um trabalho coletivo de pessoas e instituições historicamente comprometidas com a questão dos direitos sociais.
O aprofundamento desta temática foi garantido através do desenvolvimento de dois painéis. O primeiro com a retomada das concepções e marcas históricas das políticas sociais por Silvio Caccia Bava, juntamente com Helios Puig Gonzales, que apresentou indicadores da realidade reveladora das inúmeras fragilidades das políticas sociais na contemporaneidade. O segundo painel, que teve a participação de Boaventura de Sousa Santos e Marina Silva, problematizou a realidade contraditória e complexa, que apresenta desafios de lutas defensivas e ofensivas, garantindo direitos à vida em suas múltiplas dimensões e, ao mesmo tempo, apontando para uma mudança civilizatória urgente e necessária. Estas e outras questões apresentam-se em um contexto de democracia, que precisa ser democratizada.
As pontualizações e debates realizados subsidiaram uma importante contribuição de José Rogério Lopes na revisão e atualização da Agenda Mundial das Políticas Sociais, construída no 1° Seminário de Políticas Sociais há 8 anos, que necessita constituir-se como Agenda materializada na implementação cotidiana das Políticas pelos diferentes agentes, numa perspectiva emancipatória e radicalmente democrática, em vista da afirmação de fato de um outro mundo necessário e possível.
Nos próximos dias a Agenda estará disponiblizada no blog do Seminário, assim como no site do IHU Unsinos e das demais entidades promotoras.
Marilene Maia
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Publicação alerta para necessidade de impulso político no alcance dos ODM em 2015
Publicação alerta para necessidade de impulso político no alcance dos ODM em 2015
Edição especial de publicação brasileira é lançada pela ONU
Publicações que alertam para a necessidade urgente de um impulso político dos 190 países signatários para que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio sejam atingidos até 2015 estão sendo lançadas hoje, na reunião da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque. Entre as mais relevantes está a The MDGs and Beyond: Pro-Poor Policy in a Changing World (Além dos ODM: Políticas Anti-pobreza em um Mundo em Mudança), uma edição especial da Poverty In Focus, publicação do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (CIP-CI), Brasília.
Esta edição é baseada nos artigos do último Boletim do IDS (Institute of Development Studies, do Reino Unido) chamado "The MDGs and Beyond".
Justiça social
As publicações argumentam que esta revisão oficial dos objetivos deve adaptar os ODM ao novo ambiente global. "A crise econômica mundial ameaçou o progresso sobre os ODM, mas os ganhos alcançados até agora não podem nem devem ser ignorados", disse Selim Jahan, diretor do Grupo de Pobreza do PNUD. Para avançar em direção aos ODM é necessário haver ligações mais fortes entre a agenda dos direitos humanos prevista pela Declaração do Milênio e os ODM e maior atenção à inclusão de questões de justiça social em favor dos pobres.
"A taxa de escolarização primária no mundo em desenvolvimento é de 88 %, acima dos 83 % em 2000, enquanto que a mortalidade infantil - mortes entre crianças menores de cinco anos de idade - está previsto para 9 milhões, abaixo dos 12,6 milhões registrados em 1990. Com um empurrão final sobre os ODM, nós podemos ser a geração que acaba com a pobreza extrema".
Entres os colaboradores desta edição estão:
. Mary Robinson,
. o Ministro norueguês do Meio Ambiente e Desenvolvimento Internacional,
. Erik Solheim,
. funcionários da ONU,
. acadêmicos Fórum Africano de Políticas para Crianças (Etiópia),
. o Institute of Development Studies (Reino Unido),
. o Instituto de Estudos Sociais (Holanda),
. New School (EUA),
. Centro norueguês de Direitos Humanos,
. Overseas Development Institute (Reino Unido),
. Centro Pan-Africano de Desenvolvimento (Etiópia) e
. Universidade de Manchester (Reino Unido)
Edição especial de publicação brasileira é lançada pela ONU
Publicações que alertam para a necessidade urgente de um impulso político dos 190 países signatários para que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio sejam atingidos até 2015 estão sendo lançadas hoje, na reunião da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque. Entre as mais relevantes está a The MDGs and Beyond: Pro-Poor Policy in a Changing World (Além dos ODM: Políticas Anti-pobreza em um Mundo em Mudança), uma edição especial da Poverty In Focus, publicação do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (CIP-CI), Brasília.
Esta edição é baseada nos artigos do último Boletim do IDS (Institute of Development Studies, do Reino Unido) chamado "The MDGs and Beyond".
Justiça social
As publicações argumentam que esta revisão oficial dos objetivos deve adaptar os ODM ao novo ambiente global. "A crise econômica mundial ameaçou o progresso sobre os ODM, mas os ganhos alcançados até agora não podem nem devem ser ignorados", disse Selim Jahan, diretor do Grupo de Pobreza do PNUD. Para avançar em direção aos ODM é necessário haver ligações mais fortes entre a agenda dos direitos humanos prevista pela Declaração do Milênio e os ODM e maior atenção à inclusão de questões de justiça social em favor dos pobres.
"A taxa de escolarização primária no mundo em desenvolvimento é de 88 %, acima dos 83 % em 2000, enquanto que a mortalidade infantil - mortes entre crianças menores de cinco anos de idade - está previsto para 9 milhões, abaixo dos 12,6 milhões registrados em 1990. Com um empurrão final sobre os ODM, nós podemos ser a geração que acaba com a pobreza extrema".
Entres os colaboradores desta edição estão:
. Mary Robinson,
. o Ministro norueguês do Meio Ambiente e Desenvolvimento Internacional,
. Erik Solheim,
. funcionários da ONU,
. acadêmicos Fórum Africano de Políticas para Crianças (Etiópia),
. o Institute of Development Studies (Reino Unido),
. o Instituto de Estudos Sociais (Holanda),
. New School (EUA),
. Centro norueguês de Direitos Humanos,
. Overseas Development Institute (Reino Unido),
. Centro Pan-Africano de Desenvolvimento (Etiópia) e
. Universidade de Manchester (Reino Unido)
ONU prepara evento para renovar compromissos dos países para atingir os ODM até 2015
ONU prepara evento para renovar compromissos dos países para atingir os ODM até 2015 Acadêmicos, ONU e sociedade civil estão reunidos em Nova Iorque.
Acadêmicos, funcionários da ONU e organizações da sociedade civil estão hoje (25/01/10) reunidos em Nova Iorque (EUA) na mesa redonda Revisão dos ODMs 2010: O que fazer diferente? O que fazer igual?
O evento reúne diversos atores do desenvolvimento para debater o que pode ser feito para acelerar o andamento dos Objetivos e para preparar um evento mundial para a revisão dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)
Previsto para setembro de 2010, em Nova Iorque, o evento reunirá líderes mundiais em torno da erradicação da pobreza. O encontro será liderado pelo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon.
"Temos cinco anos para nos concentrar no que funciona para alcançar o desenvolvimento sustentável e eqüitativo para pessoas no mundo todo", disse a ex-Presidente da Irlanda e ex-Alta Comissária para os Direitos Humanos, Mary Robinson, palestrante e presidente da Realizing Rights: The Ethical Globalization Initiative, "isso significa, por exemplo, eliminar a desigualdade de gênero, garantindo o acesso à informação para que cidadãos possam fiscalizar programas de desenvolvimento e exigir que seus governos prestem contas e garantam oportunidades de trabalho decente para todos. Esses e outros direitos trouxeram resultados positivos - agora precisamos dar-lhes a prioridade que merecem".
IndicadoresO progresso nos ODM tem se mostrado desigual tanto em relação às metas quanto ao desempenho dos países. Há uma crescente percepção de que, se o compromisso coletivo, a ação e o esforço não estão garantidos - os ODMs não serão cumpridos em diversos países.
Em um estudo recente do Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (PNUD) de 30 países, 25 países adicionaram, expandiram ou modificaram os indicadores e apenas 10 incorporaram metas locais.
Segundo o pesquisador Andy Sumner, do IDS - instituto inglês de estudos sobre o desenvolvimento - "acelerar a progressão dos objetivos dependerá das escolhas políticas que as nações vão adotar, das prioridades de seus orçamentos, da sua capacidade de governança e dos investimentos destinados às questões cruciais". "É preciso mobilizar uma coalizão global para os ODMs e para tal, o esforço da ONU de propor em 2010 uma revisão das metas se apresenta como uma oportunidade única."
Acadêmicos, funcionários da ONU e organizações da sociedade civil estão hoje (25/01/10) reunidos em Nova Iorque (EUA) na mesa redonda Revisão dos ODMs 2010: O que fazer diferente? O que fazer igual?
O evento reúne diversos atores do desenvolvimento para debater o que pode ser feito para acelerar o andamento dos Objetivos e para preparar um evento mundial para a revisão dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)
Previsto para setembro de 2010, em Nova Iorque, o evento reunirá líderes mundiais em torno da erradicação da pobreza. O encontro será liderado pelo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon.
"Temos cinco anos para nos concentrar no que funciona para alcançar o desenvolvimento sustentável e eqüitativo para pessoas no mundo todo", disse a ex-Presidente da Irlanda e ex-Alta Comissária para os Direitos Humanos, Mary Robinson, palestrante e presidente da Realizing Rights: The Ethical Globalization Initiative, "isso significa, por exemplo, eliminar a desigualdade de gênero, garantindo o acesso à informação para que cidadãos possam fiscalizar programas de desenvolvimento e exigir que seus governos prestem contas e garantam oportunidades de trabalho decente para todos. Esses e outros direitos trouxeram resultados positivos - agora precisamos dar-lhes a prioridade que merecem".
IndicadoresO progresso nos ODM tem se mostrado desigual tanto em relação às metas quanto ao desempenho dos países. Há uma crescente percepção de que, se o compromisso coletivo, a ação e o esforço não estão garantidos - os ODMs não serão cumpridos em diversos países.
Em um estudo recente do Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (PNUD) de 30 países, 25 países adicionaram, expandiram ou modificaram os indicadores e apenas 10 incorporaram metas locais.
Segundo o pesquisador Andy Sumner, do IDS - instituto inglês de estudos sobre o desenvolvimento - "acelerar a progressão dos objetivos dependerá das escolhas políticas que as nações vão adotar, das prioridades de seus orçamentos, da sua capacidade de governança e dos investimentos destinados às questões cruciais". "É preciso mobilizar uma coalizão global para os ODMs e para tal, o esforço da ONU de propor em 2010 uma revisão das metas se apresenta como uma oportunidade única."
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Entrevista com Silvio Caccia Bava - painelista do 4o. Seminário
Teoricamente, as políticas públicas deveriam garantir a universalização dos direitos para todos os cidadãos, mas, na lógica do neoliberalismo, elas se transformaram em políticas compensatórias. Defensor de medidas universais como o direito à educação, que pode gerar desenvolvimento para o país, o sociólogo Sílvio Caccia Bava assegura que “as políticas sociais não visam a universalização de direitos que seriam para todos, mas são políticas de transferência de renda, de assistência, destinadas apenas aos mais pobres”. E alfineta: “Uma boa política econômica faz com que se prescinda de boas políticas sociais. Quer dizer, se a lógica da economia não gerar pobreza e desigualdade, não precisamos das políticas compensatórias. Então, de fato é uma questão de desenvolvimento”.
Caccia Bava estará no Anfiteatro Padre Werner - Unisinos na próxima quarta-feira, 27-01-2010, às 15h30min, participando do IV Seminário de Políticas Públicas, parte da programação do Fórum Social Mundial, discutindo as políticas sociais e a sua expressão nas realidades contemporâneas. Na entrevista que segue, concedida, por telefone, à IHU On-Line, ele adianta alguns dos aspectos que irá abordar no encontro e enfatiza que as políticas sociais brasileiras não são efetivas porque ainda estão atreladas ao modelo de desenvolvimento alicerçado nos fundamentos do neoliberalismo e porque há uma orientação do Estado para garantir esse funcionamento do livre mercado. E reitera: “O Estado não é mínimo, nunca foi e não diminuiu nada diante do neoliberalismo. (...) O Estado é um aparato que obedece a um projeto de desenvolvimento das forças políticas que o estão controlando”.
Pesquisador do Instituto Pólis e integrante do Le Monde Diplatique, Caccia Bava exemplifica suas criticas e afirma que “o Brasil está gastando hoje o equivalente a 0,5% do PIB anual para estender à quase 50 milhões de brasileiros mais pobres o Bolsa Família, o Luz para Todos e programas de transferência de renda. Ao mesmo tempo, os juros que estão sendo pagos para a dívida interna brasileira equivalem de 5 a 7% do PIB e beneficiam aproximadamente 20 mil famílias”.
Caccia Bava é graduado em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo - USP com a dissertação Práticas cotidianas e movimentos sociais: elementos para reconstituição de um objeto de estudo. Pesquisador no Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais, em São Paulo, é autor de Programas de renda mínima no Brasil: impactos e potencialidades (São Paulo: Instituto Pólis, 1998) e Participação, representação e novas formas de diálogo público (São Paulo: Instituto Pólis, 2001). É um dos organizadores de Segurança alimentar e nutricional: a contribuição das empresas para a sustentabilidade das iniciativas locais (São Paulo: Instituto Pólis, 2003).
Veja a entrevista completa em: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=29309
Caccia Bava estará no Anfiteatro Padre Werner - Unisinos na próxima quarta-feira, 27-01-2010, às 15h30min, participando do IV Seminário de Políticas Públicas, parte da programação do Fórum Social Mundial, discutindo as políticas sociais e a sua expressão nas realidades contemporâneas. Na entrevista que segue, concedida, por telefone, à IHU On-Line, ele adianta alguns dos aspectos que irá abordar no encontro e enfatiza que as políticas sociais brasileiras não são efetivas porque ainda estão atreladas ao modelo de desenvolvimento alicerçado nos fundamentos do neoliberalismo e porque há uma orientação do Estado para garantir esse funcionamento do livre mercado. E reitera: “O Estado não é mínimo, nunca foi e não diminuiu nada diante do neoliberalismo. (...) O Estado é um aparato que obedece a um projeto de desenvolvimento das forças políticas que o estão controlando”.
Pesquisador do Instituto Pólis e integrante do Le Monde Diplatique, Caccia Bava exemplifica suas criticas e afirma que “o Brasil está gastando hoje o equivalente a 0,5% do PIB anual para estender à quase 50 milhões de brasileiros mais pobres o Bolsa Família, o Luz para Todos e programas de transferência de renda. Ao mesmo tempo, os juros que estão sendo pagos para a dívida interna brasileira equivalem de 5 a 7% do PIB e beneficiam aproximadamente 20 mil famílias”.
Caccia Bava é graduado em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo - USP com a dissertação Práticas cotidianas e movimentos sociais: elementos para reconstituição de um objeto de estudo. Pesquisador no Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais, em São Paulo, é autor de Programas de renda mínima no Brasil: impactos e potencialidades (São Paulo: Instituto Pólis, 1998) e Participação, representação e novas formas de diálogo público (São Paulo: Instituto Pólis, 2001). É um dos organizadores de Segurança alimentar e nutricional: a contribuição das empresas para a sustentabilidade das iniciativas locais (São Paulo: Instituto Pólis, 2003).
Veja a entrevista completa em: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=29309
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Próxima plenária
A próxima plenária de organização ocorrerá em 20/01/2010, às 14h na sede da SACIS - Secretaria de Assistência, Cidadania e Inclusão Social - Rua São Joaquim, 600, ao lado do Instituto Rio Branco
Release do Seminário - Programação
4º Seminário de Políticas Sociais integrará Fórum Social Mundial
Entidades da sociedade civil, militantes e acadêmicos vão discutir, no ambiente do Fórum Social Mundial 2010, perspectivas e avanços no campo das políticas sociais no Brasil e no mundo no 4º Seminário de Políticas Sociais - O Papel Público das Políticas na Garantia dos Direitos Sociais, no dia 27 de janeiro, em São Leopoldo.
Nesta edição, o evento contará com nomes importantes do cenário mundial como o professor Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal, Silvio Caccia Bava, sociólogo e coordenador executivo do Instituto Pólis, e a senadora Marina Silva.
A ideia do Seminário nasceu no contexto de preparação do Fórum Social Mundial de 2002, realizado em Porto Alegre. Esta experiência se repetiu, ainda, em 2003 e 2005, acompanhando as mudanças no cenário brasileiro, latinoamericano e mundial.
Importância do Seminário
No ano em que o Fórum Social Mundial completa 10 anos de história, Porto Alegre realizará um seminário de avaliação dos processos desencadeados por este grande movimento mundial por um “outro mundo possível”. Daí a importância de se retomar a ideia que originou a proposta do Seminário de Políticas Sociais, resgatando o debate travado nos seminários anteriores e olhando para o contexto atual.
O tema escolhido – O papel público das políticas na garantia dos direitos sociais – propõe a análise e o debate sobre as realidades, possibilidades e limites da garantia dos direitos sociais e da materialização das políticas sociais a partir do protagonismo do Estado, dos governos e das organizações da sociedade civil e suas novas relações. busca enfocar o momento atual em que se percebe o abandono progressivo da ideia de um Estado mínimo e uma responsabilização crescente dos governos pela implementação das políticas sociais tendo em vista a necessidade de uma integração, agora sob outras bases, entre o poder público e as organizações da sociedade civil, avaliando e reconfigurando os papéis de ambos.
PROGRAMAÇÃO:
15h - Abertura e mística
15h30 - As Políticas Sociais e a sua expressão nas realidades contemporâneas – Silvio Caccia Bava (Instituto Polis e Le Monde Diplomatique) e Hélios Puig Gonzáles (Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul)
16h30min – Debate
17h – Intervalo
17h10 - O papel público das Políticas na garantia dos direitos sociais – Marina Silva (Senadora) e Boaventura de Sousa Santos (Universidade de Coimbra)
18h30 - Debate
19h30 - A Agenda Mundial das Políticas Sociais 2010 - revisada e atualizada – José Rogério Lopes (Unisinos)
20h – Encerramento
SERVIÇO
EVENTO: 4º Seminário de Políticas Sociais - O Papel Público das Políticas na Garantia dos Direitos Sociais
DATA: 27 de janeiro de 2010, das 15h às 20h
LOCAL: Anfiteatro Padre Werner, da Unisinos, em São Leopoldo/RS
INSCRIÇÕES: pré-inscrições gratuitas pelo site www.ihu.unisinos.br
INFORMAÇÕES: www.seminariopoliticassociais.blogspot.com
Telefone: (51) 3591.1122Email: humanitas@unisinos.brwww.ihu.unisinos.br
CONTATO PARA A IMPRENSA:
Vanessa Martins
F: (51) 9323.0459martinscomunic@gmail.com
Entidades da sociedade civil, militantes e acadêmicos vão discutir, no ambiente do Fórum Social Mundial 2010, perspectivas e avanços no campo das políticas sociais no Brasil e no mundo no 4º Seminário de Políticas Sociais - O Papel Público das Políticas na Garantia dos Direitos Sociais, no dia 27 de janeiro, em São Leopoldo.
Nesta edição, o evento contará com nomes importantes do cenário mundial como o professor Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal, Silvio Caccia Bava, sociólogo e coordenador executivo do Instituto Pólis, e a senadora Marina Silva.
A ideia do Seminário nasceu no contexto de preparação do Fórum Social Mundial de 2002, realizado em Porto Alegre. Esta experiência se repetiu, ainda, em 2003 e 2005, acompanhando as mudanças no cenário brasileiro, latinoamericano e mundial.
Importância do Seminário
No ano em que o Fórum Social Mundial completa 10 anos de história, Porto Alegre realizará um seminário de avaliação dos processos desencadeados por este grande movimento mundial por um “outro mundo possível”. Daí a importância de se retomar a ideia que originou a proposta do Seminário de Políticas Sociais, resgatando o debate travado nos seminários anteriores e olhando para o contexto atual.
O tema escolhido – O papel público das políticas na garantia dos direitos sociais – propõe a análise e o debate sobre as realidades, possibilidades e limites da garantia dos direitos sociais e da materialização das políticas sociais a partir do protagonismo do Estado, dos governos e das organizações da sociedade civil e suas novas relações. busca enfocar o momento atual em que se percebe o abandono progressivo da ideia de um Estado mínimo e uma responsabilização crescente dos governos pela implementação das políticas sociais tendo em vista a necessidade de uma integração, agora sob outras bases, entre o poder público e as organizações da sociedade civil, avaliando e reconfigurando os papéis de ambos.
PROGRAMAÇÃO:
15h - Abertura e mística
15h30 - As Políticas Sociais e a sua expressão nas realidades contemporâneas – Silvio Caccia Bava (Instituto Polis e Le Monde Diplomatique) e Hélios Puig Gonzáles (Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul)
16h30min – Debate
17h – Intervalo
17h10 - O papel público das Políticas na garantia dos direitos sociais – Marina Silva (Senadora) e Boaventura de Sousa Santos (Universidade de Coimbra)
18h30 - Debate
19h30 - A Agenda Mundial das Políticas Sociais 2010 - revisada e atualizada – José Rogério Lopes (Unisinos)
20h – Encerramento
SERVIÇO
EVENTO: 4º Seminário de Políticas Sociais - O Papel Público das Políticas na Garantia dos Direitos Sociais
DATA: 27 de janeiro de 2010, das 15h às 20h
LOCAL: Anfiteatro Padre Werner, da Unisinos, em São Leopoldo/RS
INSCRIÇÕES: pré-inscrições gratuitas pelo site www.ihu.unisinos.br
INFORMAÇÕES: www.seminariopoliticassociais.blogspot.com
Telefone: (51) 3591.1122Email: humanitas@unisinos.brwww.ihu.unisinos.br
CONTATO PARA A IMPRENSA:
Vanessa Martins
F: (51) 9323.0459martinscomunic@gmail.com
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Alteração de data de reunião
Informamos que a reunião do comitê organizador do "4º Seminário dePolíticas Sociais - Fórum Social Mundial 2010" que estava agendadapara o dia 13/01/2010, quarta-feira, está sendo transferida para o dia14/01/2010, quinta-feira, das 15h às 17h, no Auditório da Câmara deVereadores de São Leopoldo, com a pauta do dia:
- Encaminhamentos do 4º Seminário de Políticas Sociais - Forum SocialMundial 2010.
- Encaminhamentos do 4º Seminário de Políticas Sociais - Forum SocialMundial 2010.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Próximos passos...
- No dia 07/01/2010, a partir das 14h, na Sala do Comitê do FSM na Estação São Leopoldo - Trensurb.
- No dia 13/01/2010, das 14h às 17h, no auditório da Câmara deVereadores de São Leopoldo, com a seguinte pauta do dia:
Das 14h às 15h30min - Seminário - Desafios e possibilidades - FórumSocial Mundial 2010 - 10 Anos, com palestra proferida por Mauri Cruz (CAMP/FSM 10 Anos);
Das 15h30min às 17h - Encaminhamentos do 4º Seminário de Políticas Sociais - Forum Social Mundial 2010.
- No dia 13/01/2010, das 14h às 17h, no auditório da Câmara deVereadores de São Leopoldo, com a seguinte pauta do dia:
Das 14h às 15h30min - Seminário - Desafios e possibilidades - FórumSocial Mundial 2010 - 10 Anos, com palestra proferida por Mauri Cruz (CAMP/FSM 10 Anos);
Das 15h30min às 17h - Encaminhamentos do 4º Seminário de Políticas Sociais - Forum Social Mundial 2010.
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